segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Projeção do custo de energia da usina de Santo Antônio sobe mais de 80%

MARTA SALOMON
A projeção de custo da energia gerada pela hidrelétrica de Santo Antônio -a primeira usina do complexo do rio Madeira- subiu mais de 80% na nova versão do estudo de viabilidade apresentado pelo consórcio Furnas-Odebrecht às vésperas do lançamento do edital para a obra, uma das mais importantes do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Negócio bilionário, a hidrelétrica é apontada como principal alternativa para evitar crise no abastecimento de energia no país a partir de 2012.
A pedido da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), nova versão do estudo de viabilidade foi apresentada em agosto. Os números levam em conta medidas impostas pelo Ibama para contornar impactos ambientais da hidrelétrica. Os custos relacionados ao meio ambiente -estimados em R$ 1,2 bilhão- foram os que mais subiram nas planilhas que vão orientar a fixação da tarifa máxima de energia para o leilão.
Segundo os cálculos do consórcio responsável pelos estudos -integrado por Furnas Centrais Elétricas e a Construtora Norberto Odebrecht-, o custo total da usina subiu de R$ 9,7 bilhões para R$ 13,5 bilhões em dois anos.
Proporcionalmente e sem considerar gastos com as futuras linhas de transmissão, o custo estimado para a energia a ser gerada em Santo Antônio subiu mais: de US$ 23 para US$ 42 por MW/h, mostram os documentos, abertos à consulta dos empreendedores interessados no negócio. Quando a hidrelétrica foi incluída no PAC, em janeiro deste ano, o custo da obra era estimado pelo governo em R$ 9,2 bilhões.
"É um aumento muito grande", avaliou Maurício Tolmasquim, presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética, estatal que planeja o setor). Ele usou os cálculos apresentados pelo consórcio, mas levou em conta estudos próprios da EPE para estabelecer o teto da tarifa a ser cobrada dos consumidores. Esse valor, já submetido em caráter reservado ao TCU (Tribunal de Contas da União), vai balizar a disputa entre interessados em construir a usina.
"Consideramos possibilidades de reduzir custos da usina", insistiu Tolmasquim. "Será um bom negócio para o país", disse. O TCU tem prazo até o final de setembro para avaliar a consistência dos cálculos apresentados pela empresa, o que poderá causar novo atraso no edital, cujo lançamento estava previsto para anteontem.
Prazos
A nova versão do estudo de viabilidade da usina também apresenta novos prazos para a entrada em funcionamento das turbinas. De acordo com o cronograma, as seis primeiras usinas só entrarão em funcionamento em 2012 caso as obras comecem, no máximo, até setembro de 2008.
O prazo para o funcionamento de todas as 44 turbinas de Santo Antônio passa de 82 para 90 meses, de acordo com o documento. Ou seja, na melhor das hipóteses, a usina estaria em pleno funcionamento somente em fevereiro de 2016.
O início das obras até setembro de 2008 está ameaçado pelo atraso do lançamento do edital que, por sua vez, ameaça atrasar o leilão, marcado para 30 de outubro. O vencedor do leilão terá de obter uma nova licença do Ibama para iniciar as obras. Caso elas não comecem até setembro, terão de aguardar até março de 2009. Por ora, o Ministério de Minas e Energia não confirma oficialmente atraso no cronograma.
(Folha de S. Paulo – 08/09)

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