Energia alternativa cresce e deixa de ser opção apenas simbólica
Por Daniela Chiaretti
Há uma efervescência no mercado de energias renováveis no mundo. Os protagonistas costumam ser os mesmos - Alemanha, Espanha e Reino Unido na Europa; China, Índia e Brasil entre os emergentes, e os Estados Unidos, que buscam driblar a ambigüidade do governo George Bush no tema. No cardápio de opções, que vai de eólica a solar passando por biomassa e pequenas centrais hidrelétricas, há investimentos e políticas públicas cada vez mais veementes.
Diversos indicadores mostram que as renováveis começam a deixar de ser opções apenas simbólicas na matriz energética de vários países. A Alemanha, por exemplo, acaba de anunciar que produzirá 14% de sua energia a partir de fontes renováveis ainda este ano, ultrapassando sua própria meta com antecedência de três anos. A capacidade de geração de energia eólica no mundo cresceu 26% em 2006, puxada pela Alemanha, Espanha e Estados Unidos. O Congresso dos EUA debate um projeto de lei que apóia fontes limpas de energia, a Clean Energy Bill, que acaba de ser aprovada na Câmara e pode retirar US$ 16 bilhões em subsídios à indústria do petróleo. O presidente Bush se opõe à idéia, mas as empresas apóiam um horizonte que parece inevitável. Se fosse aprovada como está, a lei prevê 15% de fontes renováveis de energia na matriz americana em breve.
No Reino Unido, uma coleção de medidas está sendo desenhada e englobará de postos de gasolina à construção da maior usina de energia a partir de ondas do mundo. Será em Cornwall, num investimento de US$ 56,6 milhões. A previsão é que produza 20 MW, um volume ainda modesto mas suficiente para abastecer 7.500 casas e apontar caminhos menos dependentes dos estoques de combustíveis fósseis. Em 2006, 4,6% da geração elétrica britânica veio das chamadas fontes alternativas - incluídas hidrelétricas de maior porte. Havia 449 projetos de renováveis prestes a deslanchar.
Em 2008, no Reino Unido, o foco será nos transportes, setor que responde por um quarto das emissões de gases-estufa do país, informa Stephanie Al-Qaq, primeira secretária da Embaixada Britânica em Brasília e chefe da divisão de Mudanças Climáticas, Energia e Desenvolvimento Sustentável. Em 2010, de acordo com a RTFO, sigla do programa de energias renováveis nos combustíveis, 5% do que for vendido nas bombas dos postos terá que ser biocombustível.
"A energia renovável é um sucesso que não apenas persiste, mas está se fortalecendo", disse Sigmar Gabriel, ministro do Meio Ambiente alemão. "É mais do que realista dizer que ultrapassaremos, em muito, a meta de ter 20% de renováveis até 2020." No país, a energia gerada pelo vento, pela água, pelo sol e por biomassa, respondeu por 10,4% da geração total em 2005 e por 12% em 2006.
No Brasil, considerando-se a força hidrelétrica e o potencial da biomassa, o país está "bem no alto" das renováveis, diz Christopher Flavin, presidente da Worldwatch Institute, o WWI, ONG mundial que periodicamente diagnostica o setor. Mas há, aqui, um problema conceitual. "Energia hídrica é renovável, mas as grandes hidrelétricas têm grande impacto ambiental", diz Ricardo Baitelo, coordenador da campanha de renováveis do Greenpeace. Ele prefere falar em "novas" fontes e aí incluir eólica, solar, biomassa e pequenas centrais hidrelétricas. O programa brasileiro de energias renováveis, o Proinfa, é ainda muito tímido, avalia, e não conseguiu atrair grandes investidores mundiais.
"O Brasil exige grandes blocos de energia, e você não tira muito de fontes eólicas ou solares", diz Roberto Schaeffer, professor do programa de planejamento estratégico da Coppe, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É por isso que, nos países desenvolvidos, onde o consumo de energia já não cresce tanto, que estas opções têm sido mais sedutoras. "Isto ocorre onde o aumento de consumo energético é pequeno e mais fácil de realizar com estas soluções."
Um estudo recente do WWI informa que, em 2006, a capacidade mundial de produzir energia a partir do vento superou 74.200 MW com investimentos de US$ 22 bilhões. O mercado dos fabricantes de equipamentos cresceu 74% nos últimos dois anos. A Alemanha, a Espanha e os EUA respondem por 60% da produção. A tendência do setor tem sido migrar dos países europeus e da América do Norte para a Ásia. Em 2006, a Índia ficou em terceiro entre os que mais instalaram aerogeradores; a China assumiu o quinto posto, com crescimento de 170% em relação ao ano anterior. "China e EUA parecem querem competir pela liderança da energia eólica", diz Janet Sawin, pesquisadora do WWI. "É encorajador ver que os dois países que mais queimam carvão estejam empenhados nesta corrida."
Flavin, do WWI, enxerga várias razões por trás da agitação no mercado de renováveis. Uma delas é o preço, que já se torna atraente em relação à defasagem histórica diante das soluções tradicionais, competitividade alavancada por políticas públicas mais fortes. Há ainda o impacto dos relatórios do IPCC, o braço científico da ONU, que no início do ano emitiu alerta contundente quanto ao aquecimento global.
(Valor Econômico - 10/08/2007)
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