Bons ventos sopram a favor do Brasil. O País está prestes a vivenciar uma revolução econômica e social, movida a energia eólica. Com as melhores jazidas de vento do mundo e potencial para geração de 200 mil MW, o Brasil se prepara para protagonizar uma transformação sustentável: gerar energia limpa, emprego e ainda impulsionar o desenvolvimento do Nordeste.
Os brasileiros podem se orgulhar do fato de viverem no país mais limpo em termos de geração de energia do planeta. Praticamente 90% da eletricidade do Brasil é fornecida por grandes hidrelétricas, fonte da mais limpa energia.
Esse potencial hidrelétrico explica o fato de, apesar do potencial de 200 mil MW para geração de energia eólica, o País ter apenas 200 MW implantados
A necessidade de se promover o desenvolvimento com consciência ambiental trouxe novos ares ao debate em torno da composição da matriz energética dos países.
O conceito de sustentabilidade não mais permite alagamento de grandes áreas para criação de barragens, características das grandes hidrelétricas já construídas no Brasil.
Nesse cenário, evidencia-se que a vocação eólica brasileira é inquestionável. As jazidas de vento do Brasil estão entre as melhores do mundo. São compostas pelos chamados ventos elegantes e bem-comportados, enquanto que as jazidas da Europa e dos Estados Unidos têm ciclones, tufões, rajadas e turbulências.
Mais interessante ainda é um dado do Centro Brasileiro de Energia Eólica que mostra que 90% do potencial eólico do Brasil está localizado na região Nordeste, mais especificamente nos litorais do Ceará e do Rio Grande do Norte e no semi-árido nordestino.
E é por meio da energia eólica que surge a oportunidade de uma das regiões mais carentes do Brasil protagonizar uma revolução silenciosa. A energia eólica se apresenta como uma forma de interiorização do desenvolvimento. Combinando essa tendência ao potencial único do Nordeste, é possível transformar a região.
Tome-se uma determinada área do Brasil que não tenha quase nada em termos de desenvolvimento, mas tenha jazidas de vento. Um projeto eólico de 100 megawatts propicia um investimento de US$ 200 milhões naquele estado. A eólica possibilita que uma região no interior do País que nunca teria qualquer opção econômica de desenvolvimento seja modificada radicalmente com investimentos desta grandeza, gerando energia a partir do vento.
Essa interiorização do desenvolvimento, com geração de emprego e desenvolvimento local, é fantástica.
Por meio da Associação Mundial de Energia Eólica, tive a oportunidade de participar de um grupo de trabalho internacional para detectar onde existia complementaridade entre energias hídrica e eólica. Estudamos diversos países, tais como Estados Unidos, Rússia, Noruega, Austrália, Canadá. Em nenhum lugar do planeta existe uma complementaridade tão forte como no Nordeste do Brasil. Com cerca 40 milhões de habitantes, o Nordeste pode se tornar a região com o maior percentual de geração renovável per capita do planeta.
Os ganhos econômicos seriam extraordinários. A energia eólica já transformou a economia de países como Espanha, Dinamarca, Alemanha e Portugal, entre outros. Cria-se emprego e desenvolve-se tecnologia localmente. A Espanha é o país no mundo com o maior número de pequenas empresas montadoras.
A geração de energia eólica requer a compra de equipamentos, motor, peças internas, freios, geradores internos, engrenagens, fios e cabos.
Hoje a tendência da Europa e também de outros países é ter uma geração da ordem de 20% de energia eólica. Trazendo esse número para o Brasil, isso significa dizer que, com capacidade de geração de 100 mil MW, há espaço a curto prazo (até 2020) para 20 mil MW de energia eólica na matriz brasileira.
Falta, contudo, definir dois pontos importantíssimos para o País: legislação e preço. O Brasil precisa definir uma programação de longo prazo, projetar comquanto de energia eólica o País contará no futuro e a que preço. O setor privado nacional e internacional, com tecnologia e mecanismos de investimentos terão que se adaptar a fim de participar das licitações.
Esse é o modelo que China, Índia e outros países adotaram.
Everaldo Feitosa - Vice-presidente da Associação Mundial de Energia E)
(Gazeta Mercantil - 27/02/08)
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
EDP cria unidade para energia renovável no país
MARINA GAZZONI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A Energias do Brasil, holding do setor elétrico controlada pela EDP (Energias de Portugal), anunciou ontem a criação de uma unidade que reunirá empreendimentos de energias renováveis na América do Sul, a Enernova. A empresa vai administrar projetos e concessões de PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas), usinas de biomassa e parques eólicos.
Com meta de alcançar a capacidade de produção de 1.000 MW (megawatts) até 2012, a Enernova apresentará neste ano 24 projetos para construção de PCHs à Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), que vão adicionar 543 MW ao seu portfólio de geração de energia.
A Enernova absorveu da Energest 13 PCHs, uma delas em construção, em Mato Grosso do Sul e em Espírito Santo, com capacidade de geração total de 159 MW.
(Folha de S. Paulo - 27/02/08)
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A Energias do Brasil, holding do setor elétrico controlada pela EDP (Energias de Portugal), anunciou ontem a criação de uma unidade que reunirá empreendimentos de energias renováveis na América do Sul, a Enernova. A empresa vai administrar projetos e concessões de PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas), usinas de biomassa e parques eólicos.
Com meta de alcançar a capacidade de produção de 1.000 MW (megawatts) até 2012, a Enernova apresentará neste ano 24 projetos para construção de PCHs à Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), que vão adicionar 543 MW ao seu portfólio de geração de energia.
A Enernova absorveu da Energest 13 PCHs, uma delas em construção, em Mato Grosso do Sul e em Espírito Santo, com capacidade de geração total de 159 MW.
(Folha de S. Paulo - 27/02/08)
Cargos, só com aval da Abin
Fernanda Odilla - Buenos Aires
Para deflagrar as nomeações nas empresas do setor elétrico do país, o governo espera apenas a consulta da ficha criminal dos postulantes aos cargos, em especial os de presidente da Eletrobrás e da Eletronorte. A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) está com a missão de confeccionar os relatórios que vão trazer detalhes não apenas do conteúdo e andamento de eventuais processos nos tribunais, como também pendências passadas. A previsão é de que até a próxima semana os cargos estejam preenchidos.
O governo está fazendo de tudo para evitar desgastes como o que enfrentou no início do ano passado, quando o deputado federal Odílio Balbinotti (PMDB-PR) foi indicado para o Ministério da Agricultura. Ele foi obrigado a desistir depois que o Palácio do Planalto foi surpreendido com a existência de um inquérito sigiloso no Supremo Tribunal Federal, no qual Balbinoti é acusado de falsidade ideológica e de crime contra a fé pública. A suspeita é de que ele forjou documentação para obter empréstimo no Banco do Brasil.
À espera de um “nada consta” político e criminal, estão pelo menos três nomes: Flávio Decat de Moura, Evandro Coura e Lívio Rodrigues de Assis. A situação de José Antônio Muniz Lopes, ex-presidente da Eletronorte, é um pouco mais complicada. O Palácio espera decisão do Tribunal de Contas da União sobre auditorias que podem comprometer a gestão de Muniz Lopes para decidir se assina ou não a nomeação.
Atualmente tramitam na Justiça processos contra pelo menos três nomes de pessoas ligadas ao PMDB e cotadas para assumir os cargos nas elétricas. Um deles é Decat, ex-presidente da Eletronuclear e preferido da ministra da Casa Civil, Dilma Roussef. Ele responde a ação por suspeitas de falsificação de documento, crimes contra a administração pública e sonegação, movida pelo Ministério Público Federal em Minas Gerais. Decat nega as acusações.
Astrogildo Quental, diretor financeiro da Eletronorte e indicação do senador José Sarney, é alvo de ação civil pública por improbidade administrativa, suspeitas de superfaturamento de obras e desvio de dinheiro público. As denúncias são da época que Quental foi secretário de Infra-estrutura do Maranhão entre 1991 a 1994, justamente durante o governo do hoje ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. E o ex-governador de Santa Catarina Paulo Afonso Vieira, que o partido quer ver como diretor da Eletrosul, também é alvo de ações de improbidade.
As decisões só serão tomadas depois que os candidatos tiverem as indicações habilitadas. A idéia é resolver primeiro as nomeações da Eletrobrás e da Eletronorte. Depois, o próprio Edison Lobão se encarregará de resolver as indicações dos outros cargos, em especial do segundo escalão.
Hoje, Lobão está envolvido com outra discussão. Ele acompanhou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na viagem oficial a Argentina. Os dois participam de um café da manhã com os presidentes da Argentina, Cristina Kirchner, e da Bolívia, Evo Morales. Vão discutir a partilha do gás natural entre os três países.
Silêncio vitorioso
Normalmente, políticos interessados em obter favores do governo falam o mais alto possível nos ouvidos do poder. O senador José Sarney (PMDB-AP) inovou. Cansado de não ser atendido nos pedidos de nomeação para cargos no setor elétrico, optou pelo silêncio. O anúncio de que vai licenciar-se por quatro meses do cargo para escrever um livro tem o objetivo de fazer chegar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva sua irritação. No Palácio do Planalto, mesmo quem resiste às investidas do PMDB sabe que o veterano senador é um caso especial. “O presidente considera que tem uma dívida de gratidão com Sarney, porque ele o apoiou em 2002, quando não havia certeza de vitória”, diz um colaborador próximo de Lula.
Ninguém consegue arrancar de Sarney uma palavra sequer que associe a licença a problemas políticos. Sem mudar a expressão, ele repete o tempo todo que se afastará para finalizar um livro. Quem o conhece não compra a versão. Nas últimas décadas, o senador escreveu todos os livros sem ter de distanciar-se do poder. Ele também jura que não indicou ninguém para o setor elétrico. Ou para qualquer outro posto no governo. Diz que o PMDB é que indica pessoas próximas a ele. Ninguém no Palácio do Planalto acredita.
A decisão não impediu que Sarney se sentisse desgastado. Em conversas com amigos, ele reclamou que a indefinição o expôs durante semanas a um noticiário no qual aparece como fisiológico. Queixa-se que Dilma e o PT espalham acusações de corrupção contra os nomes apadrinhados por ele. Essas notícias o atingem. (GK)
INDICADOS
Saiba quem é quem nas cúpulas das estatais de energia
Presidência da Eletrobrás
Os nomes cotados são do ex-presidente da Eletronuclear Flávio Decat, nome preferido da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ou José Antonio Muniz,
ex-presidente da Eletronorte, indicação do senador José Sarney (PMDB-AP)
Diretoria da Eletrobrás
Miguel Colassuono, ex-prefeito de São Paulo. Indicado pelo presidente do diretório paulista do PMDB, o ex-governador Orestes
Quércia
Diretoria Financeira da Eletrobrás
Astrogildo Quental, diretor econômico-financeiro da Eletronorte. Indicado pelo senador José Sarney (PMDB-AP)
Diretoria da Eletrosul
Paulo Afonso, ex-governador de Santa Catarina. Indicado pela bancada do PMDB na Câmara
Presidência da Eletronorte
Lívio Rodrigues de Assis, diretor-geral do Detran do Pará. Indicado pelo deputado Jader Barbalho (PMDB-PA)
Diretoria Internacional da Petrobras
Jorge Luiz Zelada, gerente-geral de Engenharia da empresa. Indicado pela ala mineira da bancada do PMDB na Câmara
(Correio Braziliense - 23/02)
Para deflagrar as nomeações nas empresas do setor elétrico do país, o governo espera apenas a consulta da ficha criminal dos postulantes aos cargos, em especial os de presidente da Eletrobrás e da Eletronorte. A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) está com a missão de confeccionar os relatórios que vão trazer detalhes não apenas do conteúdo e andamento de eventuais processos nos tribunais, como também pendências passadas. A previsão é de que até a próxima semana os cargos estejam preenchidos.
O governo está fazendo de tudo para evitar desgastes como o que enfrentou no início do ano passado, quando o deputado federal Odílio Balbinotti (PMDB-PR) foi indicado para o Ministério da Agricultura. Ele foi obrigado a desistir depois que o Palácio do Planalto foi surpreendido com a existência de um inquérito sigiloso no Supremo Tribunal Federal, no qual Balbinoti é acusado de falsidade ideológica e de crime contra a fé pública. A suspeita é de que ele forjou documentação para obter empréstimo no Banco do Brasil.
À espera de um “nada consta” político e criminal, estão pelo menos três nomes: Flávio Decat de Moura, Evandro Coura e Lívio Rodrigues de Assis. A situação de José Antônio Muniz Lopes, ex-presidente da Eletronorte, é um pouco mais complicada. O Palácio espera decisão do Tribunal de Contas da União sobre auditorias que podem comprometer a gestão de Muniz Lopes para decidir se assina ou não a nomeação.
Atualmente tramitam na Justiça processos contra pelo menos três nomes de pessoas ligadas ao PMDB e cotadas para assumir os cargos nas elétricas. Um deles é Decat, ex-presidente da Eletronuclear e preferido da ministra da Casa Civil, Dilma Roussef. Ele responde a ação por suspeitas de falsificação de documento, crimes contra a administração pública e sonegação, movida pelo Ministério Público Federal em Minas Gerais. Decat nega as acusações.
Astrogildo Quental, diretor financeiro da Eletronorte e indicação do senador José Sarney, é alvo de ação civil pública por improbidade administrativa, suspeitas de superfaturamento de obras e desvio de dinheiro público. As denúncias são da época que Quental foi secretário de Infra-estrutura do Maranhão entre 1991 a 1994, justamente durante o governo do hoje ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. E o ex-governador de Santa Catarina Paulo Afonso Vieira, que o partido quer ver como diretor da Eletrosul, também é alvo de ações de improbidade.
As decisões só serão tomadas depois que os candidatos tiverem as indicações habilitadas. A idéia é resolver primeiro as nomeações da Eletrobrás e da Eletronorte. Depois, o próprio Edison Lobão se encarregará de resolver as indicações dos outros cargos, em especial do segundo escalão.
Hoje, Lobão está envolvido com outra discussão. Ele acompanhou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na viagem oficial a Argentina. Os dois participam de um café da manhã com os presidentes da Argentina, Cristina Kirchner, e da Bolívia, Evo Morales. Vão discutir a partilha do gás natural entre os três países.
Silêncio vitorioso
Normalmente, políticos interessados em obter favores do governo falam o mais alto possível nos ouvidos do poder. O senador José Sarney (PMDB-AP) inovou. Cansado de não ser atendido nos pedidos de nomeação para cargos no setor elétrico, optou pelo silêncio. O anúncio de que vai licenciar-se por quatro meses do cargo para escrever um livro tem o objetivo de fazer chegar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva sua irritação. No Palácio do Planalto, mesmo quem resiste às investidas do PMDB sabe que o veterano senador é um caso especial. “O presidente considera que tem uma dívida de gratidão com Sarney, porque ele o apoiou em 2002, quando não havia certeza de vitória”, diz um colaborador próximo de Lula.
Ninguém consegue arrancar de Sarney uma palavra sequer que associe a licença a problemas políticos. Sem mudar a expressão, ele repete o tempo todo que se afastará para finalizar um livro. Quem o conhece não compra a versão. Nas últimas décadas, o senador escreveu todos os livros sem ter de distanciar-se do poder. Ele também jura que não indicou ninguém para o setor elétrico. Ou para qualquer outro posto no governo. Diz que o PMDB é que indica pessoas próximas a ele. Ninguém no Palácio do Planalto acredita.
A decisão não impediu que Sarney se sentisse desgastado. Em conversas com amigos, ele reclamou que a indefinição o expôs durante semanas a um noticiário no qual aparece como fisiológico. Queixa-se que Dilma e o PT espalham acusações de corrupção contra os nomes apadrinhados por ele. Essas notícias o atingem. (GK)
INDICADOS
Saiba quem é quem nas cúpulas das estatais de energia
Presidência da Eletrobrás
Os nomes cotados são do ex-presidente da Eletronuclear Flávio Decat, nome preferido da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ou José Antonio Muniz,
ex-presidente da Eletronorte, indicação do senador José Sarney (PMDB-AP)
Diretoria da Eletrobrás
Miguel Colassuono, ex-prefeito de São Paulo. Indicado pelo presidente do diretório paulista do PMDB, o ex-governador Orestes
Quércia
Diretoria Financeira da Eletrobrás
Astrogildo Quental, diretor econômico-financeiro da Eletronorte. Indicado pelo senador José Sarney (PMDB-AP)
Diretoria da Eletrosul
Paulo Afonso, ex-governador de Santa Catarina. Indicado pela bancada do PMDB na Câmara
Presidência da Eletronorte
Lívio Rodrigues de Assis, diretor-geral do Detran do Pará. Indicado pelo deputado Jader Barbalho (PMDB-PA)
Diretoria Internacional da Petrobras
Jorge Luiz Zelada, gerente-geral de Engenharia da empresa. Indicado pela ala mineira da bancada do PMDB na Câmara
(Correio Braziliense - 23/02)
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
Custo alto é o nó da matriz hidrelétrica
RUY BAHIA - Professor da UFPA
Na primeira parte da minha palestra, proferida em 27 de janeiro de 2007, para o Conselho de Desenvolvimento do Estado (CDE), a convite do seu presidente, engenheiro Lutfala Bitar, apresentei os requisitos de investimentos para as alternativas de expansão da oferta de geração de Energia Eétrica (EE) nas versões de Matriz Hídrica e Matriz Hidrotérmica no períodos 2000-2030 e 2030-2050. Volto a prestar esclarecimentos e constestações relacionadas ao conteúdo da matéria de autoria do professor Nagib Charone publicada em O LIBERAL de 7 de fevereiro de 2008, sob o título 'A Pesquisa da Amazônia na contramão'.
Para o período 2000-2030, e no caso da Matriz Hídrica, com 88% de participação de hidrelétricas, os custos de investimentos em capacidade instalada alcançam US$ 375 bilhões. No caso da Matriz Hidrotérmica, para uma mesma oferta de expansão de EE, os investimentos somam o total de US$ 180 bilhões, com as participações igualadas em 50%. Ocorre, portanto, um sobrecusto de US$ 195 bilhões. Esse sobrecusto deverá ser acrescido para US$ 292 bilhões (US$ 9,7 bilhões/ano) considerando as atualizações de JDC (Juros Durante a Construção) das hidrelétricas. Os investimentos na Matriz Hídrica não tem sustentabilidade financeira devido à insuficiência de disponibilidade de recursos financeiros da estatal ELB e do BNDES observada nos últimos anos. Em 2007, os investimento na Matriz Hídrica deveriam ter sido de cerca de US$ 9,3 bilhões, sendo que somente cerca de US$ 3 bilhões foram investidos (33%). Essa carência de investimentos gerou uma extremada sensibilidade às variações hidrológicas naturais que são imprevisíveis e que são os principais riscos de apagões e portanto típicos da Matriz Hidrica. Esses riscos de apagões estarão minimizados no caso da Matriz Hidrotérmica, que por ser diversificada ( 50% x 50%) tem pouca ou nenhuma sensibilidade às variações do ciclo hidrológico e com reduzida intensidade financeira e de maior confiabilidade quanto aos riscos de apagões.
Demonstrada as inviabilidades da Matriz Hídrica com aquele intolerável sobrecusto de US$ 292 blhões, passei à exposição do tema complementar da minha palestra: 'A eficiência hidroenérgética das barragens na Amazônia - casos Balbina, Tucuruí e Projeto Belo Monte', com acentuadas ineficiências, sendo que no caso de Belo Monte, a ineficiência hidroenergética é ainda mais acentuada em relação a Balbina, e que combinada com as inviabilidades típicas da Matriz Hídrica condenam os projetos de hidrelétricas na Amazônia e em particular o Projeto Belo Monte, citado com falsas justificativas de evitar apagões nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do País.
Confirmo a minha afirmativa de que as recentes anunciadas mega descobertas de óleo e gás natural (GN) nos projeto Tupi e Júpiter são fatos concretos e não simples 'estudos'. No caso da mega descoberta de GN em Júpiter, com dimensões de área do tamanho de jazida 50% superior e espessura do reservatório duas vezes maior em relação a Tupi, já justificam a prioridade já estabelecida pela Petrobrás para realizar um teste de produção de longa duração, para avaliar e definir parâmetros como o volume de óleo leve condensado associado ao GN (razão gás/óleo), que comprovem a esperada reserva provada da jazida, para então estabelecer as estratégias e planejamento de investimentos para o escoamento dessas reserva para o mercado Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Inclusive para avaliar o potencial da complementação da expansão da oferta de GN para a geração de EE, independendo da importação da hidreletricidade da Amazônia.
O desenvolvimento tecnológico petrolífero é um processo de contínua evolução que ocorre durante a exploração/explotação das jazidas. Assim tem ocorrido na Bacia de Campos e certamente ocorrerá na bacia do pré-sal de Santos. Segundo recentes pronunciamentos, a diretoria de Exploração e Produção da Petrobrás não considera restrições ou limitações tecnológicas para a produção e escoamento do GN de Júpiter, restando somente o risco financeiro de uma queda dos preços do barril de petróleo abaixo dos US$ 60 a US$ 70 o barril, que criará obstáculos nos fluxos de caixa dos desenvolvimentos dos projetos no pré-sal de Santos, o que parece ser improvável, considerando a prevalência da instabilidade geopolítica dos paises produtores do Oriente Médio e da continuidade de aumento de demanda da China e Índia pelas próximas décadas.
CONFIABILIDADE
Reafirmo portanto o que declarei na minha palestra para o CDE: o atendimento da demanda de EE nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste independe das hidrelétricas da Amazônia, podendo ser realizado com menores riscos de apagões e maior confiabilidade com o GN do Projeto Júpiter já a partir de 20 de dezembro de 2013.
Demonstra-se claramente com os gráficos de 'Mid-points' (ponto médio) na hipótese mais provável de ROR (Reserva Original Recuperável) de 80 Gboe (Giga barril de óleo equivalente), que as reservas remanescentes de GN só passarão a declinar a partir do ano 2050, com o esgotamento ocorrendo para além dos anos 2060-2070. Não ocorrerá portanto o citado esgotamento imediato dessas reservas remanescentes de GN. A nível internacional não se conhece além dos paises árabes do Oriente Médio, país algum que esteja cometendo o 'suicídio' de desenvolver-se com somente a queima do petróleo ou GN. No nosso caso a queima de GN para a produção de EE complementar às outras fontes não corresponde em nenhuma hipótese a um 'suicídio'.
As reservas de petróleo não são finitas e nem se esgotarão em menos de 50 anos. No mundo energético, as fontes não se esgotam e sim são substituídas com alternativas mais eficientes, que são os casos da lenha substituída pelo Carvão Mineral (CM) e essa fonte pelo petróleo, que deverá ser, no futuro longínquo, parcialmente substituído por hidrogênio. Quanto às possibilidades de aproveitamento de CM são problemas e não soluções, em paises que tem grandes reservas como China, Índia e EUA, porem com tecnologias de elevado custo, porém sem soluções de descarte das cinzas contaminantes (ver Revista Brasileira de Energia v. 12 no.2 p. 27-47). O Brasil sem reservas de CM de boa qualidade não tem esses problemas de aproveitamento. Quanto à 'Energia do Futuro' (Scientific American), os futurologistas expressaram suas opiniões sem considerar o uso o petróleo ou do GN como solução global e sim em cenários pós 2030-2050, de declínio dessas fontes e suprimento de energia em bases predominantes de outras fontes alternativas ao petróleo como: hidrogênio, fissão e/ou fusão nuclear, solar, biocombustíveis etc. Vale a pena uma releitura desta matéria.
BALBINA
Quanto ao mencionado elevado potencial hidráulico de 60 GW, só no Pará, é oportuno esclarecer que esse potencial só terá importância econômica quando demonstrada a sua viabilidade financeira e econômica. Sem essas prévias avaliações e insistindo nesses aproveitamento não avaliados, estaremos simplesmente repetindo Balbina, que é um exemplo didático de aproveitamento de potencial hidráulico sem viabilidades. Essa simples citação de potencial de 60 GW sem definição como reserva hidráulica viável é um equivoco que deve ser evitado, pois induz à falsa idéia de que todo ele é aproveitável, o que não é definitivamente verdade.
Finalmente declaro minha satisfação em ter debatido esses temas de energia com o qualificado professor Nagib Charone, da área acadêmica universitária, reconhecendo que sempre há espaço para aprendizado nesses debates, tendo porém o cuidado de esclarecer no título dessa minha matéria que: não é a pesquisa da Amazônia que está na contramão e sim a inviável Matriz Hídrica, com suas inviabilidades como claramente por mim demonstradas.
(O Liberal - 24/02)
Na primeira parte da minha palestra, proferida em 27 de janeiro de 2007, para o Conselho de Desenvolvimento do Estado (CDE), a convite do seu presidente, engenheiro Lutfala Bitar, apresentei os requisitos de investimentos para as alternativas de expansão da oferta de geração de Energia Eétrica (EE) nas versões de Matriz Hídrica e Matriz Hidrotérmica no períodos 2000-2030 e 2030-2050. Volto a prestar esclarecimentos e constestações relacionadas ao conteúdo da matéria de autoria do professor Nagib Charone publicada em O LIBERAL de 7 de fevereiro de 2008, sob o título 'A Pesquisa da Amazônia na contramão'.
Para o período 2000-2030, e no caso da Matriz Hídrica, com 88% de participação de hidrelétricas, os custos de investimentos em capacidade instalada alcançam US$ 375 bilhões. No caso da Matriz Hidrotérmica, para uma mesma oferta de expansão de EE, os investimentos somam o total de US$ 180 bilhões, com as participações igualadas em 50%. Ocorre, portanto, um sobrecusto de US$ 195 bilhões. Esse sobrecusto deverá ser acrescido para US$ 292 bilhões (US$ 9,7 bilhões/ano) considerando as atualizações de JDC (Juros Durante a Construção) das hidrelétricas. Os investimentos na Matriz Hídrica não tem sustentabilidade financeira devido à insuficiência de disponibilidade de recursos financeiros da estatal ELB e do BNDES observada nos últimos anos. Em 2007, os investimento na Matriz Hídrica deveriam ter sido de cerca de US$ 9,3 bilhões, sendo que somente cerca de US$ 3 bilhões foram investidos (33%). Essa carência de investimentos gerou uma extremada sensibilidade às variações hidrológicas naturais que são imprevisíveis e que são os principais riscos de apagões e portanto típicos da Matriz Hidrica. Esses riscos de apagões estarão minimizados no caso da Matriz Hidrotérmica, que por ser diversificada ( 50% x 50%) tem pouca ou nenhuma sensibilidade às variações do ciclo hidrológico e com reduzida intensidade financeira e de maior confiabilidade quanto aos riscos de apagões.
Demonstrada as inviabilidades da Matriz Hídrica com aquele intolerável sobrecusto de US$ 292 blhões, passei à exposição do tema complementar da minha palestra: 'A eficiência hidroenérgética das barragens na Amazônia - casos Balbina, Tucuruí e Projeto Belo Monte', com acentuadas ineficiências, sendo que no caso de Belo Monte, a ineficiência hidroenergética é ainda mais acentuada em relação a Balbina, e que combinada com as inviabilidades típicas da Matriz Hídrica condenam os projetos de hidrelétricas na Amazônia e em particular o Projeto Belo Monte, citado com falsas justificativas de evitar apagões nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do País.
Confirmo a minha afirmativa de que as recentes anunciadas mega descobertas de óleo e gás natural (GN) nos projeto Tupi e Júpiter são fatos concretos e não simples 'estudos'. No caso da mega descoberta de GN em Júpiter, com dimensões de área do tamanho de jazida 50% superior e espessura do reservatório duas vezes maior em relação a Tupi, já justificam a prioridade já estabelecida pela Petrobrás para realizar um teste de produção de longa duração, para avaliar e definir parâmetros como o volume de óleo leve condensado associado ao GN (razão gás/óleo), que comprovem a esperada reserva provada da jazida, para então estabelecer as estratégias e planejamento de investimentos para o escoamento dessas reserva para o mercado Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Inclusive para avaliar o potencial da complementação da expansão da oferta de GN para a geração de EE, independendo da importação da hidreletricidade da Amazônia.
O desenvolvimento tecnológico petrolífero é um processo de contínua evolução que ocorre durante a exploração/explotação das jazidas. Assim tem ocorrido na Bacia de Campos e certamente ocorrerá na bacia do pré-sal de Santos. Segundo recentes pronunciamentos, a diretoria de Exploração e Produção da Petrobrás não considera restrições ou limitações tecnológicas para a produção e escoamento do GN de Júpiter, restando somente o risco financeiro de uma queda dos preços do barril de petróleo abaixo dos US$ 60 a US$ 70 o barril, que criará obstáculos nos fluxos de caixa dos desenvolvimentos dos projetos no pré-sal de Santos, o que parece ser improvável, considerando a prevalência da instabilidade geopolítica dos paises produtores do Oriente Médio e da continuidade de aumento de demanda da China e Índia pelas próximas décadas.
CONFIABILIDADE
Reafirmo portanto o que declarei na minha palestra para o CDE: o atendimento da demanda de EE nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste independe das hidrelétricas da Amazônia, podendo ser realizado com menores riscos de apagões e maior confiabilidade com o GN do Projeto Júpiter já a partir de 20 de dezembro de 2013.
Demonstra-se claramente com os gráficos de 'Mid-points' (ponto médio) na hipótese mais provável de ROR (Reserva Original Recuperável) de 80 Gboe (Giga barril de óleo equivalente), que as reservas remanescentes de GN só passarão a declinar a partir do ano 2050, com o esgotamento ocorrendo para além dos anos 2060-2070. Não ocorrerá portanto o citado esgotamento imediato dessas reservas remanescentes de GN. A nível internacional não se conhece além dos paises árabes do Oriente Médio, país algum que esteja cometendo o 'suicídio' de desenvolver-se com somente a queima do petróleo ou GN. No nosso caso a queima de GN para a produção de EE complementar às outras fontes não corresponde em nenhuma hipótese a um 'suicídio'.
As reservas de petróleo não são finitas e nem se esgotarão em menos de 50 anos. No mundo energético, as fontes não se esgotam e sim são substituídas com alternativas mais eficientes, que são os casos da lenha substituída pelo Carvão Mineral (CM) e essa fonte pelo petróleo, que deverá ser, no futuro longínquo, parcialmente substituído por hidrogênio. Quanto às possibilidades de aproveitamento de CM são problemas e não soluções, em paises que tem grandes reservas como China, Índia e EUA, porem com tecnologias de elevado custo, porém sem soluções de descarte das cinzas contaminantes (ver Revista Brasileira de Energia v. 12 no.2 p. 27-47). O Brasil sem reservas de CM de boa qualidade não tem esses problemas de aproveitamento. Quanto à 'Energia do Futuro' (Scientific American), os futurologistas expressaram suas opiniões sem considerar o uso o petróleo ou do GN como solução global e sim em cenários pós 2030-2050, de declínio dessas fontes e suprimento de energia em bases predominantes de outras fontes alternativas ao petróleo como: hidrogênio, fissão e/ou fusão nuclear, solar, biocombustíveis etc. Vale a pena uma releitura desta matéria.
BALBINA
Quanto ao mencionado elevado potencial hidráulico de 60 GW, só no Pará, é oportuno esclarecer que esse potencial só terá importância econômica quando demonstrada a sua viabilidade financeira e econômica. Sem essas prévias avaliações e insistindo nesses aproveitamento não avaliados, estaremos simplesmente repetindo Balbina, que é um exemplo didático de aproveitamento de potencial hidráulico sem viabilidades. Essa simples citação de potencial de 60 GW sem definição como reserva hidráulica viável é um equivoco que deve ser evitado, pois induz à falsa idéia de que todo ele é aproveitável, o que não é definitivamente verdade.
Finalmente declaro minha satisfação em ter debatido esses temas de energia com o qualificado professor Nagib Charone, da área acadêmica universitária, reconhecendo que sempre há espaço para aprendizado nesses debates, tendo porém o cuidado de esclarecer no título dessa minha matéria que: não é a pesquisa da Amazônia que está na contramão e sim a inviável Matriz Hídrica, com suas inviabilidades como claramente por mim demonstradas.
(O Liberal - 24/02)
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
O "Vale do Silício" da energia limpa
Por Andrei Netto, de Copenhague
Ao longo da estrada estreita e sinuosa que leva à zona industrial de Copenhague, capital da Dinamarca, a paisagem muda com freqüência. No início da viagem, chama a atenção a sucessão de campos de futebol -- a região concentra os centros de treinamento de vários times da primeira divisão do país. Mais adiante, surgem no horizonte vários galpões, com um aspecto de abandono que reflete o estágio atual de atividade das metalúrgicas, das fábricas de borracha e de outros negócios do gênero instalados por ali. Eles entraram em franca decadência desde que o governo resolveu mudar sua política de incentivos fiscais nos anos 70, priorizando o surgimento de atividades não poluentes e capazes de oferecer alternativas viáveis ao "fim" da era do petróleo. O resultado dessa guinada pode ser conferido no final do caminho, quando se ultrapassa o portão que dá acesso aos campos eólicos de Lynetten e Middelgrunden. Juntos, eles formam um dos maiores complexos desse gênero no mundo. Um visitante chegou a comparar o impacto visual com o desembarque num planeta alienígena, ocupado por fileiras de robôs gigantes em forma de hastes. As dezenas de turbinas enfileiradas causam mesmo uma forte impressão. Parte delas avança mar adentro, onde barquinhos de pescadores, para seguir em frente, são obrigados a manobrar entre os pilares, que chegam a 40 metros de altura. Embora estejam longe de representar a oitava maravilha do mundo, estão se tornando uma espécie de novo cartão-postal da Dinamarca.
Ao incentivar o desenvolvimento da tecnologia que utiliza a força dos ventos para gerar energia, a Dinamarca criou a maior indústria no mundo desse gênero. Atualmente, o país reúne cerca de 180 empresas dedicadas ao negócio de energia eólica. Elas empregam mais de 20 000 pessoas e faturaram no ano passado 4,4 bilhões de dólares (veja quadro). O setor também se destaca por sua capacidade de inovação, o que lhe conferiu o apelido de "Vale do Silício" da energia limpa. Os dinamarqueses exportam mais de 90% das turbinas fabricadas e dominam 40% do mercado global do produto. "Começamos a pensar no assunto antes de qualquer outro país, fizemos um investimento tecnológico sem paralelo e reunimos um grande número de companhias pensando em desenvolvimento e conquista de mercados, com a ajuda das universidades locais", afirmou a EXAME o engenheiro Peter Hauge Madsen, consultor em energia eólica que está entre os mais respeitados da Dinamarca.
O PAIS É UM LUGAR ONDE uma empresa como a LM -- grande fabricante de turbinas -- decide investir quase 5 milhões de dólares para desenvolver um túnel de vento, semelhante aos utilizados pelas escudeiras da Fórmula 1, a fim de melhorar a performance aerodinâmica das pás de vento das turbinas eólicas. Normalmente, quando transplantados da tela do computador para a vida real, os projetos conseguem uma eficiência de 90%, em média, em relação à intenção original dos engenheiros. Com o túnel de vento, será possível fazer correções antes da execução da obra, elevando sua taxa de acerto. O Vale do Silício escandinavo foi também o pioneirismo na construção de usinas eólicas em alto-mar, no início da década de 90. A obra mais importante dos dinamarqueses, porém, tem sido demonstrar que a possibilidade de sustentar grandes cidades e complexos industriais com a energia dos ventos não é apenas um delírio de ecologistas. Atualmente, 20% da energia utilizada no país é obtida dessa forma, a maior proporção encontrada no mundo. A geração custa 5,5 centavos de euro por quilowatt-hora, quase a metade do custo conseguido por países como Espanha e Alemanha, grandes investidores nesse tipo de energia. É algo significativo, mesmo considerando os subsídios concedidos pelo governo dinamarquês às empresas da área. (Calcula-se que os gastos com esses subsídios no país superem a casa dos 200 milhões de dólares por ano.)
Algumas das maiores empresas de energia eólica dinamarquesas nasceram com uma vocação diferente e mudaram de ramo de negócios motivadas pelos incentivos do governo. A LM, por exemplo, originalmente atuava como fabricante de móveis. Até o final da dé cada de 70, a Vestas, outra grande empresa do setor, produzia máquinas agrícolas. Hoje é a maior do mundo na fabricação de turbinas eólicas, com participação de 28% no mercado global. Possui 14 500 funcionários e está presente em 60 países. No ano passado, faturou 5,2 bilhões de dólares. "Não há segredo por trás de nosso desempenho", afirmou a EXAME Peter Wenzel Kruse, vice-presidente da Vestas. "Trabalhamos duro, contamos com o apoio de políticos visionários e com o suporte de pesquisa de boas universidades."
Parte desse mutirão é organizada pelo Consórcio Dinamarquês para a Pesquisa em Energia Eólica, criado em 2002. Sua função original -- e ainda hoje a mais importante -- é garantir a integração entre as companhias e a capacidade criativa de centros de pesquisa, como a Universidade Técnica da Dinamarca e o Riso National Laboratory. No consórcio, empresas e instituições de ensino transformam a pesquisa e o desenvolvimento de produtos e materiais em uma rede de informações compartilhada entre os parceiros. "Queremos ser os "mocinhos" do negócio, o exemplo em termos de aproveitamento de fontes de energia limpa. Logo, é preciso que sejamos inovadores", afirmou a EXAME Asger Kej, diretor do Dansk Hydraulisk Institut (DHI), outro dos institutos de pesquisa de ponta do país.
Nunca a liderança no mercado de energia eólica trouxe tantos dividendos para o país quanto agora. As maiores companhias dinamarquesas do setor viraram objeto de desejo de grandes investidores. O fundo de private equity Doughty Hanson, por exemplo, pagou 44,6 milhões de dólares pelo controle da LM em 2001. Algo semelhante ocorreu com a fabricante de turbinas Bonus Energy, incorporada pela Siemens em 2004, ao custo de 200 milhões de dólares. Apesar da absorção pelo capital alemão e da mudança de nome da companhia, que hoje se chama Siemens Wind Power, a sede da empresa segue instalada em Copenhague.
A vanguarda no mercado de energia limpa também coloca a Dinamarca numa posição privilegiada num momento em que a União Européia acaba de baixar um severo plano de diminuição da emissão de gases poluentes na atmosfera. Segundo documento divulgado no mês passado, o objetivo é elevar em 20% o uso de energia de fontes renováveis até 2020. Cada um dos 27 países-membros recebeu uma espécie de lição de casa, sendo obrigado a contribuir com uma cota para chegar à média desejada. A Dinamarca precisa aumentar para 30% a participação de fontes renováveis em sua matriz energética. A notícia foi recebida com tranqüilidade no país. Segundo as previsões, essa meta deve ser atingida cinco anos antes, comprovando a fama de eficiência do "Vale do Silício" escandinavo.
(Revista Exame - 16/02/2008)
Ao longo da estrada estreita e sinuosa que leva à zona industrial de Copenhague, capital da Dinamarca, a paisagem muda com freqüência. No início da viagem, chama a atenção a sucessão de campos de futebol -- a região concentra os centros de treinamento de vários times da primeira divisão do país. Mais adiante, surgem no horizonte vários galpões, com um aspecto de abandono que reflete o estágio atual de atividade das metalúrgicas, das fábricas de borracha e de outros negócios do gênero instalados por ali. Eles entraram em franca decadência desde que o governo resolveu mudar sua política de incentivos fiscais nos anos 70, priorizando o surgimento de atividades não poluentes e capazes de oferecer alternativas viáveis ao "fim" da era do petróleo. O resultado dessa guinada pode ser conferido no final do caminho, quando se ultrapassa o portão que dá acesso aos campos eólicos de Lynetten e Middelgrunden. Juntos, eles formam um dos maiores complexos desse gênero no mundo. Um visitante chegou a comparar o impacto visual com o desembarque num planeta alienígena, ocupado por fileiras de robôs gigantes em forma de hastes. As dezenas de turbinas enfileiradas causam mesmo uma forte impressão. Parte delas avança mar adentro, onde barquinhos de pescadores, para seguir em frente, são obrigados a manobrar entre os pilares, que chegam a 40 metros de altura. Embora estejam longe de representar a oitava maravilha do mundo, estão se tornando uma espécie de novo cartão-postal da Dinamarca.
Ao incentivar o desenvolvimento da tecnologia que utiliza a força dos ventos para gerar energia, a Dinamarca criou a maior indústria no mundo desse gênero. Atualmente, o país reúne cerca de 180 empresas dedicadas ao negócio de energia eólica. Elas empregam mais de 20 000 pessoas e faturaram no ano passado 4,4 bilhões de dólares (veja quadro). O setor também se destaca por sua capacidade de inovação, o que lhe conferiu o apelido de "Vale do Silício" da energia limpa. Os dinamarqueses exportam mais de 90% das turbinas fabricadas e dominam 40% do mercado global do produto. "Começamos a pensar no assunto antes de qualquer outro país, fizemos um investimento tecnológico sem paralelo e reunimos um grande número de companhias pensando em desenvolvimento e conquista de mercados, com a ajuda das universidades locais", afirmou a EXAME o engenheiro Peter Hauge Madsen, consultor em energia eólica que está entre os mais respeitados da Dinamarca.
O PAIS É UM LUGAR ONDE uma empresa como a LM -- grande fabricante de turbinas -- decide investir quase 5 milhões de dólares para desenvolver um túnel de vento, semelhante aos utilizados pelas escudeiras da Fórmula 1, a fim de melhorar a performance aerodinâmica das pás de vento das turbinas eólicas. Normalmente, quando transplantados da tela do computador para a vida real, os projetos conseguem uma eficiência de 90%, em média, em relação à intenção original dos engenheiros. Com o túnel de vento, será possível fazer correções antes da execução da obra, elevando sua taxa de acerto. O Vale do Silício escandinavo foi também o pioneirismo na construção de usinas eólicas em alto-mar, no início da década de 90. A obra mais importante dos dinamarqueses, porém, tem sido demonstrar que a possibilidade de sustentar grandes cidades e complexos industriais com a energia dos ventos não é apenas um delírio de ecologistas. Atualmente, 20% da energia utilizada no país é obtida dessa forma, a maior proporção encontrada no mundo. A geração custa 5,5 centavos de euro por quilowatt-hora, quase a metade do custo conseguido por países como Espanha e Alemanha, grandes investidores nesse tipo de energia. É algo significativo, mesmo considerando os subsídios concedidos pelo governo dinamarquês às empresas da área. (Calcula-se que os gastos com esses subsídios no país superem a casa dos 200 milhões de dólares por ano.)
Algumas das maiores empresas de energia eólica dinamarquesas nasceram com uma vocação diferente e mudaram de ramo de negócios motivadas pelos incentivos do governo. A LM, por exemplo, originalmente atuava como fabricante de móveis. Até o final da dé cada de 70, a Vestas, outra grande empresa do setor, produzia máquinas agrícolas. Hoje é a maior do mundo na fabricação de turbinas eólicas, com participação de 28% no mercado global. Possui 14 500 funcionários e está presente em 60 países. No ano passado, faturou 5,2 bilhões de dólares. "Não há segredo por trás de nosso desempenho", afirmou a EXAME Peter Wenzel Kruse, vice-presidente da Vestas. "Trabalhamos duro, contamos com o apoio de políticos visionários e com o suporte de pesquisa de boas universidades."
Parte desse mutirão é organizada pelo Consórcio Dinamarquês para a Pesquisa em Energia Eólica, criado em 2002. Sua função original -- e ainda hoje a mais importante -- é garantir a integração entre as companhias e a capacidade criativa de centros de pesquisa, como a Universidade Técnica da Dinamarca e o Riso National Laboratory. No consórcio, empresas e instituições de ensino transformam a pesquisa e o desenvolvimento de produtos e materiais em uma rede de informações compartilhada entre os parceiros. "Queremos ser os "mocinhos" do negócio, o exemplo em termos de aproveitamento de fontes de energia limpa. Logo, é preciso que sejamos inovadores", afirmou a EXAME Asger Kej, diretor do Dansk Hydraulisk Institut (DHI), outro dos institutos de pesquisa de ponta do país.
Nunca a liderança no mercado de energia eólica trouxe tantos dividendos para o país quanto agora. As maiores companhias dinamarquesas do setor viraram objeto de desejo de grandes investidores. O fundo de private equity Doughty Hanson, por exemplo, pagou 44,6 milhões de dólares pelo controle da LM em 2001. Algo semelhante ocorreu com a fabricante de turbinas Bonus Energy, incorporada pela Siemens em 2004, ao custo de 200 milhões de dólares. Apesar da absorção pelo capital alemão e da mudança de nome da companhia, que hoje se chama Siemens Wind Power, a sede da empresa segue instalada em Copenhague.
A vanguarda no mercado de energia limpa também coloca a Dinamarca numa posição privilegiada num momento em que a União Européia acaba de baixar um severo plano de diminuição da emissão de gases poluentes na atmosfera. Segundo documento divulgado no mês passado, o objetivo é elevar em 20% o uso de energia de fontes renováveis até 2020. Cada um dos 27 países-membros recebeu uma espécie de lição de casa, sendo obrigado a contribuir com uma cota para chegar à média desejada. A Dinamarca precisa aumentar para 30% a participação de fontes renováveis em sua matriz energética. A notícia foi recebida com tranqüilidade no país. Segundo as previsões, essa meta deve ser atingida cinco anos antes, comprovando a fama de eficiência do "Vale do Silício" escandinavo.
(Revista Exame - 16/02/2008)
Energia solar deve ser aproveitada
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão Astrônomo e escritor
A energia solar é superior a qualquer outra forma de captação de energia convencional por tratar-se de uma fonte totalmente natural, ecológica, gratuita, inesgotável e que não agride ao meio ambiente.
No Brasil, o chuveiro elétrico é o maior vilão contra o racionamento de energia. Cerca de 6% do consumo nacional - o que significa quase o dobro do que se gasta em todo o país com iluminação pública - é usado no aquecimento de água para banho. Assim, o Brasil é o único país do mundo a utilizar o sistema de chuveiro elétrico como hábito nacional.
A utilização de energia solar térmica para aquecer água em residências e hotéis constitui uma sensível economia para os usuários que vierem a usar este tipo de captação de energia associada à energia elétrica convencional. Com efeito, os que procederam desta maneira já tiveram uma redução de cerca 30% em suas contas.
Desde 1980, o aquecimento solar da água para fins domésticos é obrigatório em Israel, onde 80% das residências possuem aquecedores solares. Em Barcelona, a iniciativa começou em 1998, onde o uso de aquecedores solares também é obrigatório. O sucesso do sistema de aquecimento solar, em Barcelona, fez com que outras cidades na Espanha fossem obrigadas pelas autoridades locais a usarem aquecedores solares de água. A partir de 2006, o governo central da cidade decidiu torná-lo obrigatório em toda a Catalunha.
Aquecedores solares tornaram-se obrigatórios nos códigos de edificações em junho de 2006. Na Índia, 11 cidades já têm seus projetos de lei que tornam obrigatório o uso de aquecedores solares em novas edificações.
Na Austrália, o governo escolheu, em 2005, cinco cidades para iniciar o estudo dos projetos que permitam consolidar a tecnologia do aquecimento solar em todo o país.
Leis semelhantes vêm sendo amplamente discutidas em várias cidades de toda a comunidade uropéia, em especial da França e da Itália. A mesma discussão vem ocorrendo em cidades dos EUA.
Em 2006, a tecnologia do aquecimento solar nas novas edificações tornou-se obrigatória na Cidade do México, onde já existe o curso de formação de engenheiro em energia solar (aquecimento solar e energia fotovoltaica). Na Argentina, a lei já vem sendo discutida em Rosário e Buenos Aires.
No Brasil, pouco mais de 1% das casas têm aquecedores solares.
O aquecimento solar faz parte do contexto do planejamento energético nacional de vários países e no Brasil vem sendo desprezado por nossos administradores, sejam da esfera federal, estadual ou municipal.
* Autor de mais de 85 livros, dentre eles: ´Anuário de Astronomia e Astronáutica 2008´
(Jornal do Brasil - 16/02/2008)
A energia solar é superior a qualquer outra forma de captação de energia convencional por tratar-se de uma fonte totalmente natural, ecológica, gratuita, inesgotável e que não agride ao meio ambiente.
No Brasil, o chuveiro elétrico é o maior vilão contra o racionamento de energia. Cerca de 6% do consumo nacional - o que significa quase o dobro do que se gasta em todo o país com iluminação pública - é usado no aquecimento de água para banho. Assim, o Brasil é o único país do mundo a utilizar o sistema de chuveiro elétrico como hábito nacional.
A utilização de energia solar térmica para aquecer água em residências e hotéis constitui uma sensível economia para os usuários que vierem a usar este tipo de captação de energia associada à energia elétrica convencional. Com efeito, os que procederam desta maneira já tiveram uma redução de cerca 30% em suas contas.
Desde 1980, o aquecimento solar da água para fins domésticos é obrigatório em Israel, onde 80% das residências possuem aquecedores solares. Em Barcelona, a iniciativa começou em 1998, onde o uso de aquecedores solares também é obrigatório. O sucesso do sistema de aquecimento solar, em Barcelona, fez com que outras cidades na Espanha fossem obrigadas pelas autoridades locais a usarem aquecedores solares de água. A partir de 2006, o governo central da cidade decidiu torná-lo obrigatório em toda a Catalunha.
Aquecedores solares tornaram-se obrigatórios nos códigos de edificações em junho de 2006. Na Índia, 11 cidades já têm seus projetos de lei que tornam obrigatório o uso de aquecedores solares em novas edificações.
Na Austrália, o governo escolheu, em 2005, cinco cidades para iniciar o estudo dos projetos que permitam consolidar a tecnologia do aquecimento solar em todo o país.
Leis semelhantes vêm sendo amplamente discutidas em várias cidades de toda a comunidade uropéia, em especial da França e da Itália. A mesma discussão vem ocorrendo em cidades dos EUA.
Em 2006, a tecnologia do aquecimento solar nas novas edificações tornou-se obrigatória na Cidade do México, onde já existe o curso de formação de engenheiro em energia solar (aquecimento solar e energia fotovoltaica). Na Argentina, a lei já vem sendo discutida em Rosário e Buenos Aires.
No Brasil, pouco mais de 1% das casas têm aquecedores solares.
O aquecimento solar faz parte do contexto do planejamento energético nacional de vários países e no Brasil vem sendo desprezado por nossos administradores, sejam da esfera federal, estadual ou municipal.
* Autor de mais de 85 livros, dentre eles: ´Anuário de Astronomia e Astronáutica 2008´
(Jornal do Brasil - 16/02/2008)