quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Uma revolução energética movida a vento

Bons ventos sopram a favor do Brasil. O País está prestes a vivenciar uma revolução econômica e social, movida a energia eólica. Com as melhores jazidas de vento do mundo e potencial para geração de 200 mil MW, o Brasil se prepara para protagonizar uma transformação sustentável: gerar energia limpa, emprego e ainda impulsionar o desenvolvimento do Nordeste.
Os brasileiros podem se orgulhar do fato de viverem no país mais limpo em termos de geração de energia do planeta. Praticamente 90% da eletricidade do Brasil é fornecida por grandes hidrelétricas, fonte da mais limpa energia.
Esse potencial hidrelétrico explica o fato de, apesar do potencial de 200 mil MW para geração de energia eólica, o País ter apenas 200 MW implantados
A necessidade de se promover o desenvolvimento com consciência ambiental trouxe novos ares ao debate em torno da composição da matriz energética dos países.
O conceito de sustentabilidade não mais permite alagamento de grandes áreas para criação de barragens, características das grandes hidrelétricas já construídas no Brasil.
Nesse cenário, evidencia-se que a vocação eólica brasileira é inquestionável. As jazidas de vento do Brasil estão entre as melhores do mundo. São compostas pelos chamados ventos elegantes e bem-comportados, enquanto que as jazidas da Europa e dos Estados Unidos têm ciclones, tufões, rajadas e turbulências.
Mais interessante ainda é um dado do Centro Brasileiro de Energia Eólica que mostra que 90% do potencial eólico do Brasil está localizado na região Nordeste, mais especificamente nos litorais do Ceará e do Rio Grande do Norte e no semi-árido nordestino.
E é por meio da energia eólica que surge a oportunidade de uma das regiões mais carentes do Brasil protagonizar uma revolução silenciosa. A energia eólica se apresenta como uma forma de interiorização do desenvolvimento. Combinando essa tendência ao potencial único do Nordeste, é possível transformar a região.
Tome-se uma determinada área do Brasil que não tenha quase nada em termos de desenvolvimento, mas tenha jazidas de vento. Um projeto eólico de 100 megawatts propicia um investimento de US$ 200 milhões naquele estado. A eólica possibilita que uma região no interior do País que nunca teria qualquer opção econômica de desenvolvimento seja modificada radicalmente com investimentos desta grandeza, gerando energia a partir do vento.
Essa interiorização do desenvolvimento, com geração de emprego e desenvolvimento local, é fantástica.
Por meio da Associação Mundial de Energia Eólica, tive a oportunidade de participar de um grupo de trabalho internacional para detectar onde existia complementaridade entre energias hídrica e eólica. Estudamos diversos países, tais como Estados Unidos, Rússia, Noruega, Austrália, Canadá. Em nenhum lugar do planeta existe uma complementaridade tão forte como no Nordeste do Brasil. Com cerca 40 milhões de habitantes, o Nordeste pode se tornar a região com o maior percentual de geração renovável per capita do planeta.
Os ganhos econômicos seriam extraordinários. A energia eólica já transformou a economia de países como Espanha, Dinamarca, Alemanha e Portugal, entre outros. Cria-se emprego e desenvolve-se tecnologia localmente. A Espanha é o país no mundo com o maior número de pequenas empresas montadoras.
A geração de energia eólica requer a compra de equipamentos, motor, peças internas, freios, geradores internos, engrenagens, fios e cabos.
Hoje a tendência da Europa e também de outros países é ter uma geração da ordem de 20% de energia eólica. Trazendo esse número para o Brasil, isso significa dizer que, com capacidade de geração de 100 mil MW, há espaço a curto prazo (até 2020) para 20 mil MW de energia eólica na matriz brasileira.
Falta, contudo, definir dois pontos importantíssimos para o País: legislação e preço. O Brasil precisa definir uma programação de longo prazo, projetar comquanto de energia eólica o País contará no futuro e a que preço. O setor privado nacional e internacional, com tecnologia e mecanismos de investimentos terão que se adaptar a fim de participar das licitações.
Esse é o modelo que China, Índia e outros países adotaram.
Everaldo Feitosa - Vice-presidente da Associação Mundial de Energia E)

(Gazeta Mercantil - 27/02/08)

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