domingo, 30 de março de 2008

Sem rumo, Cesp se torna sombra da Cemig e da Copel

AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Com vendas equivalentes a 21% do faturamento da Cemig e a 40% da receita da Copel, a Cesp (Companhia Energética de São Paulo) é hoje apenas uma sombra entre as principais empresas estaduais de energia do país. Dentre as três, foi a única a ser dividida em várias partes para ser privatizada. A empresa responde hoje por 10% da geração de energia no país.

Cemig e Copel mantiveram o modelo integrado, com geração, transmissão e distribuição de energia e agora se preparam para o chamado segundo tempo de aquisições no setor elétrico nacional.

Entre os alvos futuros, estão a Brasiliana, controlada pela BNDESPar, e os leilões para os aproveitamentos hidrelétricos na região amazônica, como Jirau, no rio Madeira, e Belo Monte, no rio Xingu. A Cesp, por ora, está fora dessa nova rodada de consolidação, seja como compradora seja como alvo.

A atual falta de perspectiva da Cesp foi confirmada na última terça-feira, quando nenhum dos cinco grupos pré-identificados para a participação do leilão de privatização dos ativos remanescentes da estatal apresentou as garantias financeiras exigidas no edital de venda.

Criada em 1966 e responsável por parte importante dos investimentos em expansão do parque hidrelétrico nacional, a Cesp como empresa entrou num período de incertezas.

Depois da derrota, o governo José Serra (PSDB) preferiu não alimentar as discussões sobre o futuro da estatal. A Folha procurou a Secretaria da Fazenda (organizadora do processo de privatização), a Secretaria de Energia e a própria Cesp, ao longo da semana, para saber quais opções passam a ser avaliadas a partir de agora. A resposta foi a de que não há nenhum pronunciamento a ser feito no momento. Ao que parece, nem o Estado sabe o que fazer com a Cesp.

Com 1.300 funcionários responsáveis por operar e manter as seis usinas, a Cesp parou no tempo. A última turbina instalada pela companhia, na usina Porto Primavera, começou a gerar energia em 2003. De lá para cá, nenhum outro projeto de peso ocupou os 190 engenheiros da companhia -já foram mais de 500 nos anos 90.

A própria usina Porto Primavera, com 14 máquinas em operação, tem mais quatro espaços abertos prontos para a instalação de novas turbinas. Não é a única. A usina Três Irmãos, localizada no rio Tietê, pode ser ampliada em mais três turbinas. "Enquanto Copel e Cemig projetam expansões, a Cesp vai perdendo a capacidade técnica que construiu, vai definhando", diz um engenheiro da empresa ouvido pela Folha.

Às compras

Controlada pelo governo Aécio Neves (PSDB), a Cemig se prepara para investir até R$ 4 bilhões neste ano. Isso inclui a participação como minoritária no consórcio que disputará a usina Jirau e a Brasiliana.

Para Luiz Fernando Rolla, diretor de finanças, relações com investidores e participações da Cemig, o plano de expansão da companhia decorreu de uma escolha anos atrás.

"O desempenho da Cemig decorre de um planejamento estratégico que visualizava um cenário do mercado brasileiro de energia. Acho que o resultado hoje demonstra que acertamos naquela avaliação", diz.

Ao contrário do que acreditou o governo de São Paulo, o cenário previa a necessidade e a consolidação -e não a fragmentação- das companhias de energia.

O plano previa também o desenvolvimento do mercado de capitais, uma fonte de recursos importante para novas aquisições. Os planos de governança corporativa ajudaram a tirar o estigma da má gestão de companhias estatais, e novos investidores aceitaram comprar papéis dessas empresas. A Cemig, nos últimos anos, comprou a Light, no Rio de Janeiro, e a usina Rosal, do grupo Rede.

"Investimos R$ 1 bilhão em recursos próprios na primeira fase de consolidação do setor. Agora, acredito que os investimentos serão muito maiores", explica Rolla.

A previsão da Cemig é que, em cinco anos, seis ou sete grandes grupos dominarão o setor elétrico brasileiro. A Cemig detém hoje 7% da geração nacional e quer alcançar 15% em cinco anos.

Em distribuição, detém 12% do mercado nacional. Até na transmissão de energia o plano é crescer. Projetos arrematados na região Norte podem assegurar agora alguma vantagem na disputa nas concessões de novas usinas na Amazônia.

Majoritária

A Cemig leva pequena vantagem em relação à Copel. A companhia tem mandado para fechar parcerias em que pode ser minoritária.

A companhia paranaense tem um limite nesse quesito. Segundo Rubens Ghilardi, diretor-presidente da Copel, a empresa precisa de autorização especial do Legislativo para ser minoritária em um negócio.

Companhia de geração, distribuição e pequena participação em transmissão, a Copel tem planos inclusive no setor de telefonia. Testa, neste momento, um sistema que permitirá implantar uma rede de transmissão de voz e dados via infra-estrutura de fibra ótica e na própria rede de distribuição.

No setor de energia, a Copel negocia, neste momento, um consórcio com a Tractebel para disputar a usina de Jirau. A empresa tem projetos de investimento de R$ 2 bilhões para a construção de uma hidrelétrica na região de Londrina (PR) e a montagem de um parque térmico baseado em biomassa.

(Folha de S. Paulo – 30/03/08)

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