segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Caroço de açaí

Sob a coordenação do engenheiro Dílson Trindade e financiado pela Eletronorte, entrará em operação, no próximo dia 13 de março, a primeira usina térmica de geração de energia usando o caroço do açaí como biomassa, na comunidade Nossa Senhora das Dores, em Abaetetuba. A experiência resulta de acordo firmado entre a empresa, a Universidade Rural da Amazônia (Ufra) e o Departamento de Engenharia Elétrica/Centro Tecnológico/Universidade Federal do Pará (UFPA) desde 2004. A usina atenderá inicialmente 80 famílias com consumo médio mensal de 100 kwh e consumirá aproximadamente 150 quilos de caroço de açaí diariamente.
Segunda usina - No dia 13 de abril, entrará em operação a segunda usina com a mesma tecnologia na comunidade de Chipaiá, em Cachoeira do Arari. O objetivo da Eletronorte é implantar a tecnologia em todas as cerca de 500 ilhas do Estado que dependem de energia a diesel. A tecnologia foi importada da Índia, adaptada para o uso do caroço de açaí. Resolve o problema de energia dessas comunidades isoladas e ainda evita a poluição ambiental.

(Diário do Pará – Repórter Diário – 27/01/08)

As hidrelétricas e o aquecimento global

Alexandre Kemenes Programa LBA (INPA)
Bruce Forsberg Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA)
John Melack Universidade da Califórnia, EUA

A noção de que as hidrelétricas fornecem energia "limpa", sem emitir gases que contribuem com o aquecimento global, está sendo revista, principalmente para usinas dos trópicos. Estudos revelam que a decomposição da matéria orgânica que fica submersa nas áreas alagadas para construção dos reservatórios das usinas, pode gerar e emitir quantidades expressivas de gases envolvidos no aquecimento global. No Brasil, onde há planos de construção de várias usinas na Amazônia, estudos como esses podem ajudar na escolha das hidrelétricas a serem construídas, uma vez que tal escolha deve se basear em uma análise de custo/benefício que contabilize, além das despesas de construção e manutenção, os custos ambientais, sendo a emissão de gases-estufa um dos principais.

O aquecimento global decorre de ações humanas, como a queima de petróleo, que liberam na atmosfera gases que intensificam o efeito estufa, fenômeno natural que mantém a temperatura planetária em níveis adequados à vida. Devido a isso, cientistas de todo o mundo buscam conhecer os processos que influenciam o balanço desses gases na atmosfera. A decomposição de material orgânico em lagos profundos e áreas alagadas (por exemplo, para a construção de hidrelétricas) é um desses processos.

A maior parte das plantas submersas para a construção dos reservatórios das hidrelétricas entra em decomposição, gerando gás carbônico (CO2) e metano (CH4), dois dos principais gases-estufa. Parte desses gases é liberada na superfície da água; parte na saída das turbinas e uma terceira parte é lançada na atmosfera lentamente ao longo dos rios abaixo das barragens. As emissões totais de CO2 e CH4 dos reservatórios de usinas hidrelétricas são aproximadamente proporcionais à área alagada, embora as emissões de carbono por metro quadrado sejam maiores em represas tropicais que nas temperadas, devido à maior atividade metabólica em águas mais quentes.

O Brasil se comprometeu a quantificar suas emissões de gases-estufa por meio de inventários das atividades. O primeiro inventário das emissões das hidrelétricas foi baseado em medidas feitas em diversos reservatórios. O estudo também comparou as emissões de hidrelétricas tropicais brasileiras com as de usinas termelétricas com o mesmo potencial energético e concluiu que, na maioria dos casos, a hidrelétrica era mais limpa.

No entanto, esse inventário considerou apenas as emissões de gases-estufa acima das barragens e há estudos que mostram que as emissões abaixo das represas são significativas. Gwenaël Abril, da Universidade Bordeaux 1, França, por exemplo, determinou que as emissões abaixo da barragem representam 48% do total de emissões na usina de Petit-Saut, na Guiana. Kemenes (um dos autores desse artigo) mostrou que as emissões abaixo da represa são 15% do total de emissões na usina Balbina, no Amazonas, e, em conjunto com os outros autores, está repetindo a análise em outras três usinas brasileiras (Tucuruí, Curuá-Una e Samuel), incluindo as emissões acima e abaixo das barragens.

Pior que carvão mineral

Até o momento, as emissões totais de cinco hidrelétricas do trópico úmido (Balbina, Tucuruí, Curuá-Una, Samuel e Petit-Saut) foram estimadas através de dados reais e cálculos matemáticos. Dessa maneira, as emissões revelaram-se sempre maiores que as das termelétricas tropicais consideradas, inclusive as que queimam carvão mineral, tido como o combustível fóssil mais poluente. Em Balbina, que tem uma das piores densidades energéticas (razão entre o potencial energético, em megawatts, e a área alagada, em quilômetros quadrados) das hidrelétricas brasileiras, a emissão de gases-estufa por megawatt-hora (MWh) é cerca de 10 vezes maior que a de uma termelétrica a carvão mineral. Mesmo Tucuruí, com uma das melhores densidades energéticas do país, pode gerar quase duas vezes mais gases-estufa por MWh que uma termoelétrica a carvão.

Considerando a grande participação das hidrelétricas na produção energética brasileira, esses resultados são preocupantes. Apesar de continuarem a ser uma das mais econômicas tecnologias para gerar energia no pais, o alto custo ambiental de hidrelétricas no trópico úmido, como a Amazônia, pode desestimular o licenciamento de novas unidades. Conclui-se que apenas hidrelétricas com elevadas densidades energéticas deveriam ser construídas na Amazônia, e que a retirada da vegetação antes do enchimento dos reservatórios poderá, talvez, reduzir as emissões.

No caso das unidades antigas, novas tecnologias poderiam ajudar a reduzir as emissões. Um exemplo é a coleta do metano dos reservatórios, com a subseqüente queima do biogás para a geração de energia elétrica. Estimativas feitas para Balbina sugerem que esse método poderia aumentar seu potencial energético médio em até 75% e reduzir as emissões desse gás em 65%. As emissões evitadas ainda poderiam, apenas em Balbina, ser transformadas em US$ 20 milhões em créditos de carbono por ano.

(Jornal do Brasil – 27/01/08)

Estudioso condena usina de Belo Monte

SIMONE ROMERO

Aos 77 anos, o engenheiro civil com ruybahiapós-graduação em geologia do petróleo Ruy Bahia não tem medo de defender idéias polêmicas. Ele diz que a hidrelétrica de Belo Monte será um grande fiasco e condena a excessiva concentração do setor energético brasileiro na matriz hídrica. Suas afirmações são baseadas em 50 anos trabalhando no setor de energia. As últimas décadas foram dedicadas especificamente aos estudos na área de planejamento energético. Bahia diz que o Brasil precisa é diversificar sua matriz e pensar em longo prazo.

Por que o Brasil privilegia a energia gerada pelas hidrelétricas?

Por interesses comerciais e há um problema cultural também. A Eletrobrás deveria ser chamada "hidroeletrobrás" e não Eletrobrás. Ela foi criada para implantar o sistema hidrelétrico. Só tem que chegou um momento em que o fluxo de caixa da Eletrobrás não gera mais receita financeira. No ano de 2007, para evitar o apagão, deveria ter investido US$ 6 bilhões. O problema é que há uma insolvência financeira que tornará obrigatória a mudança da matriz. Além disso, o mundo todo hoje não constrói mais hidrelétricas, principalmente grandes hidrelétricas. As grandes hidrelétricas são armadilhas financeiras.

Por que o senhor aposta tanto no gás?

Eu não aposto no gás. Eu defendo uma matriz diversificada com a participação do gás. É da natureza humana sempre pensar no dia-a-dia, mas o setor energético precisa ser pensado em longo prazo. Está se dando pouca importância para essas megadescobertas da Petrobrás em reservas de óleo e gás na bacia de Santos, mas elas têm um significado enorme no sistema energético nacional. Essas reservas vão tornar o Brasil auto-suficiente em gás e óleo.

Como essas reservas vão alterar o perfil energético do Brasil?

As regiões Sul e Sudeste concentram mais de 80% do PIB brasileiro, mais de 80% da demanda elétrica e mais de 80% da população. É uma felicidade que em frente a esse mercado enorme a Petrobrás tenha descoberto esses mega-poços. Eu considero que essas descobertas tornam as regiões Sul e Sudeste independentes das grandes hidrelétricas da Amazônia. Porque não faz mais sentido, não tem mais lógica, você construir grandes usinas para transmitir energia elétrica para uma região que já é auto-suficiente em gás. Só a lógica do interesse comercial é que defende essas grandes hidrelétricas.

Já temos tecnologia hoje para explorar essas reservas?

Esses blocos onde foram feitas as descobertas foram arrematados pela Petrobrás em 2000. O centro de pesquisas da Petrobrás, no entanto, só partiu para explorar essas áreas em 2005, devido à grande profundidade. A Petrobrás já está fazendo planos para em 2012 começar a produzir óleo e gás dessas reservas. Hoje não temos tecnologia para explorar esses campos, mas é um desafio tecnológico que será vencido nos próximos anos.

O gás é um combustível fóssil. Como pode ser ambientalmente correto?

O gás é a fonte energética da moda porque ele emite pouco enxofre, tem reduzida emissão de CO2 e queima sem resíduo. Todas as fontes térmicas têm resíduo. O carvão mineral, por exemplo, você queima e ficam as cinzas.

Qual sua opinião sobre Belo Monte ?

Ela será um fiasco quatro vezes maior do que Balbina (AM) porque é quatro vezes maior do que a hidrelétrica do Amazonas. Ambas têm baixa eficiência energética. Em 20 anos Balbina só produziu 70 MW de energia firme e foi construíida para fornecer 250 MW. Basta dividir 70 por 250 para ver que a eficiência é de apenas 28%. Fora da Amazônia a eficiência das hidrelétricas é de 50%.

Então, por que insistir na construção?

Mais uma vez, interesses comerciais. Foi o que o procurador Felício Pontes já afirmou. Belo Monte não interessa à sociedade. Só interessa aos construtores de barragens, aos barrageiros.

O que o futuro do setor energético aponta?

Por exemplo, até 2030 é esperado que já se tenha um protótipo, na França, de uma usina nuclear de fusão a partir do hidrogênio. Um processo semelhante ao que acontece no sol. A tecnologia vem sendo estudada por um consórcio formado por pequisadores de vários países. O custo da energia solar também está baixando e é uma alternativa em longo prazo. Num futuro depois de 2030, os grandes consumidores serão abastecidos por usinas com reator de fusão nuclear, que não gera radioatividade, e os consumidores menores com energia solar.

As usinas nucleares não são perigosas?

Com a tecnologia atual de fissão do urânio a poluição já é zero. O que existe é o risco de contaminação ambiental, como aconteceu em Chernobil. Em Chernobil o reator não tinha um vaso de contenção para evitar o vazamento. Não foi acidente, foi irresponsabilidade. O único outro acidente ocorreu em Three Mile Island, nos Estados Unidos, mas como a usina tinha vaso de contenção não houve poluição ambiental. Em 30, 40 anos de operação com usinas nucleares - são mais de 400 em operação -, só existem dois casos de vazamento. Então é uma tecnologia segura e limpa. Com o aquecimento global, as usinas nucleares têm sido lembradas porque têm emissão zero. O risco de acidente é potencial. Com o domínio da tecnologia de fusão nuclear do hidrogênio, as atuais serão substituídas.

E para o Pará, qual a matriz energética?

Pequenas e médias usinas hidrelétricas. Existe um potencial hídrico que pode ser aproveitado economicamente, principalmente na região não florestada do Araguaia Tocantins, que ninguém fala porque é coisa de mil MW. Apenas para uso interno do Estado do Pará.

(O Liberal – 27/01/08)

Ministra nega possibilidade de país ter racionamento de energia este ano

Gustavo Paul e Henrique Gomes Batista

BRASÍLIA

Preocupada em evitar que os rumores de racionamento energético ofuscassem o balanço do primeiro aniversário do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, negou ontem com veemência a possibilidade de faltar energia no país. A ministra disse que, se em 2001 as térmicas representavam 12% do total de energia gerado, hoje correspondem a 20% e, por isso, terão prioridade para receber o gás. Diante disso, porém, Dilma não escondeu que poderá faltar gás para outros fins, como para empresas e automóveis:

- Hoje não há a menor possibilidade de haver racionamento de energia. O Brasil terá de ter fontes térmicas para estabilizar o setor e a prioridade do gás é para as térmicas - assegurou.

Em discurso duro contra o uso do gás automotivo, Dilma lembrou que apenas Brasil e Argentina usam o combustível para este fim. Depois das térmicas, avisou, o insumo deve ser destinado às indústrias, pois aumenta a produtividade. Mas ela ressaltou que há perspectiva de aumento da oferta de gás no país:

- Não vamos fazer nenhuma ação contra o uso do gás veicular, mas fazer a conversão (de motores) agora é uma temeridade - avisou a ministra, lembrando que o carro convertido ainda pode circular com gasolina ou álcool.

Uma das novidades no setor energético foi a entrada da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, definitivamente na agenda do governo, saindo da categoria de "atenção" para a situação "adequada". A licitação de Belo Monte, uma das maiores obras do governo, capaz de gerar 11 mil megawatts (MW) de energia, foi projetada para outubro de 2009.

Dilma afirmou que o número de ações de energia incluídas no PAC aumentou de 531 em agosto para 602 em dezembro. Entre as grandes usinas em projeto ou construção, apenas a de Pai Querê, na divisa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul, está em atenção - no primeiro balanço era considerada preocupante. Ela também destacou o início das obras de 15 usinas hidrelétricas, capazes de gerar 2.775 MW, e de 16 usinas térmicas, que produzirão 1.373 MW. Para transmissão de energia, foram concluídas cinco linhas. Outras seis linhas foram iniciadas, somando 3.090 quilômetros.

No setor de gás e petróleo, o governo além de incluir no PAC os megapoços de Tupi e Júpiter, este último anunciado na véspera pela Petrobras, acrescentou a implantação do terminal de regaseificação da Baía da Guanabara. Ele custará R$1,9 bilhão, será inaugurado em setembro e poderá processar 14 milhões de m ao dia.

Na área de transportes, além da concessão de mais dez trechos de rodovias à iniciativa privada, o governo incluiu no PAC a construção de 4,1 mil quilômetros de ferrovias. A idéia é repetir o sucesso do leilão de um trecho da Ferrovia Norte-Sul - em outubro, a Vale pagou R$1,4 bilhão pelo direito de usar a estrada de ferro.

- Nossa proposta é interligar, por bitola larga (com capacidade de cargas mais pesadas), o país de Norte a Sul ao Nordeste por trens, inclusive integrando portos - afirmou o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento.

(O Globo - 23/01/08)

Governo gasta só 27% do previsto com obras do PAC

Lu Aiko Otta, BRASÍLIA

O governo apresentou ontem um balanço otimista, porém parcial, do primeiro ano do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O caderno com 209 páginas repletas de tabelas divulgado no Palácio do Planalto mostra a evolução exata das despesas pagas com recursos públicos. Porém, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, não informou quanto em empreendimentos privados previstos no programa foi realizado em 2007.

Os números mostram que, em seu primeiro ano, a maior parte do PAC não saiu do papel. Dos R$ 16,5 bilhões reservados para o programa, apenas R$ 4,5 bilhões foram gastos, o equivalente a 27%. O restante são despesas em etapas burocráticas, como elaboração de edital para contratação de empreiteiras ou obtenção de licenças do Ibama.

O PAC prevê investimentos de R$ 503,9 bilhões até 2010, dos quais R$ 216,9 bilhões são privados e R$ 287 bilhões, do Orçamento da União e das estatais. O balanço mostra alguns investimentos privados em andamento, mas não há dados agregados que permitam avaliar o ritmo do PAC como um todo.Dilma, porém, disse acreditar que os R$ 503,9 bilhões serão concretizados até o fim do governo Luiz Inácio Lula da Silva, em 2010. “Acho que vai dar mais, mas isso eu não posso falar alto.”

A ministra e seus colegas da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Paulo Bernardo,minimizaram os riscos que surgiram este ano no caminho do PAC, como a ameaça de falta de energia.“Hoje não há a menor possibilidade de racionamento de energia”, afirmou Dilma.

Tampouco os cortes nas verbas orçamentárias, em função do fim da Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira (CPMF), será problema. “Não há previsão de cortes no PAC”, afirmou Bernardo.

Nem a ameaça de recessão nos Estados Unidos é vista como um fator que vá, necessariamente, reduzir o ritmo de investimentos. “Não vamos nos precipitar”,pediu Mantega. “Não houve conseqüências práticas para o Brasil, nosso mercado de consumo doméstico continua crescendo ao ritmo de 10%.”

Se ainda está em ritmo lento, o PAC avançou, porém, dentro da burocracia. Se os planos derem certo, obras começarão a pipocar em todo o País. “Este será um ano de muitas realizações, há um grande canteiro em processo de viabilização”, afirmou Dilma. “Passamos de um ano de preparação para um nível de aceleração a partir do segundo semestre de 2007.”

O PAC promete, assim, se converter numa poderosa máquina eleitoral. “Mas é uma máquina suprapartidária”, disse o ministro das Cidades, Márcio Fortes, que tem sob sua coordenação projetos de grande visibilidade eleitoral, como a urbanização das favelas do Complexo do Alemão, no Rio, além de conjuntos habitacionais e obras de saneamento.

O Ministério das Cidades tem R$ 32 bilhões para o PAC, mas o dinheiro precisa ser gasto em coordenação com prefeitos e governadores. A maior preocupação é fazer com que as prefeituras façam licitações e contratem as obras até 30 de junho. A lei eleitoral não permite o repasse de verbas para investimentos iniciados após a data.

SITUAÇÃO MELHOR

Das 2.126 ações do PAC monitoradas pelo governo, 82% estão com o andamento considerado adequado, recebendo um selo verde. Outros 16% estão em ritmo que exige atenção, com selo amarelo, e 2% com situação preocupante, com selo vermelho. É um quadro mais positivo do que o de abril passado, quando 61% receberam o selo verde.

No entanto, os critérios para a classificação dos projetos são flexíveis. Por exemplo: a usina nuclear de Angra 3 aparece com selo verde. Porém, os preparativos para a obra estão parados desde a semana passada, quando a Justiça suspendeu as audiências públicas nos municípios afetados. Essas audiências são uma etapa de preparação para se obter a licença ambiental. Segundo Dilma, um atraso de dois ou três meses é irrelevante numa obra desse porte.

A hidrelétrica de Belo Monte também está com selo verde, embora precise de termos de referência do Ibama e da Funai. Inicialmente, a licença do Ibama sairia até 7 de outubro e a da Funai, até 30 de outubro. Agora, os prazos foram alterados para 15 de fevereiro.

A hidrelétrica de Castro Alves, no Rio Grande do Sul, deveria ter começado a funcionar neste mês, segundo o balanço do PAC de setembro. Mas ela está parada. O reservatório está sendo preenchido e a previsão é que comece a funcionar neste trimestre. Porém, a obra aparece com o selo verde.

(O Estado de S. Paulo - 23/01/08)

Belo monte deve ser licitada no fim de 2009

O leilão da hidroelétrica Belo Monte, que será localizada no Pará e terá capacidade de geração de 11.181,3 megawatts (MW) deve ocorrer em outubro do próximo ano, de acordo com dados apresentados ontem pelo governo federal durante o balanço do primeiro ano de implementação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

A usina, prevista no PAC, passou de status amarelo para verde. Com isso, deixou de estar com ritmo ´´em atenção´´ para ser enquadrado como cronograma ´´adequado´´.

A previsão do programa é de que as negociações com o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para otenção dos documentos e análises necessários, sejam concluídas até o próximo dia 15 de fevereiro.

Para a mesma data está prevista a emissão do documento pela Fundação Nacional do Índio (Funai), cujas vistorias técnicas devem ser concluídas até o próximo dia 1º de fevereiro.

Na avaliação da ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a definição dessas datas foram suficientes para avanço no status imposto pelo sistema de monitoramento das obras feito pelo governo.

Em paralelo, os estudos ambientais avaliarão ainda a real dimensão da usina. Na última segunda-feira, dia 21, o diretor de Engenharia da estatal Eletronorte, Adhemar Palocci, comentou que entre as definições em andamento está a construção da usina em duas fases e a potência real da usina.´´Por enquanto, trabalhamos com a potência atual´´, afirmou Palocci.

A previsão de investimentos na usina é de aproximadamente R$ 7 bilhões, sendo que R$ 2,810 bilhões serão aplicados até o ano de 2010 e o restante entre 2010 e 2014. A meta é que a última máquina da usina entre em operação em abril de 2014.

(Diário do Comércio e Indústria/SP - 23/01/08)

Aliado de Jader assume R$5,4 bi da Eletronorte

Maria Lima e Gerson Camarotti

Não é pela preocupação com medidas que evitem um apagão energético que caciques do PMDB e do PT se digladiam pelo comando das empresas do setor. Somam R$26,7 bilhões os orçamentos das estatais que o PMDB vai controlar ou já controla, caso de Furnas. Os nomes indicados para os cargos, em sua maioria, são de técnicos da área, alguns desconhecidos, mas todos apadrinhados por políticos, os verdadeiros comandantes dessas empresas. Com a nomeação de Edison Lobão para o Ministério de Minas e Energia, o PT só conseguiu manter sob seu controle a presidência da Eletrosul, com um dos menores orçamentos da área, R$1.052.791.881 este ano.

A grande batalha se trava em torno da presidência da Eletrobrás, a jóia da coroa, com orçamento de R$14.358.371.579 em 2008. O nome mais forte é o do executivo do setor energético Evandro Coura, homem da confiança do senador José Sarney (PMDB-AP). Coura era até outubro o presidente do Grupo Rede, proprietário de oito distribuidoras de energia e 34 usinas hidrelétricas.

Apontado até por aliados de Sarney e pela oposição como uma espécie de "raposa tomando conta do galinheiro", o executivo é também presidente da Associação Brasileira das Concessionárias de Energia. Quando seu nome começou a ser costurado para o cargo pelo ex-ministro Silas Rondeau, Coura saiu da presidência do Grupo Rede. Aliados de Sarney consideram que ele foi muito ousado ao patrocinar o nome de Coura, pela estreita ligação dele com as concessionárias privadas.

- É um nome que a bancada resolveu apoiar de forma efetiva, levando-se em conta a importância dessa empresa para o país - disse Garibaldi, que assumiu a indicação, para tirar o peso de Sarney, que indicou também Astrogildo Quental para a diretoria financeira da Eletrobrás, além de ter emplacado Lobão no ministério.

- É um absurdo! Essa coisa de se desvincular e botar a mulher no lugar não engana mais ninguém. No governo ele será um superlobista - disse o líder do PSDB na Câmara, Antonio Carlos Pannunzio (SP), referindo-se à informação de que Coura saiu da presidência do Grupo Rede mas deixou em seu lugar a mulher, Carmem Pereira.

Os defensores da indicação dizem que Sarney estava apreensivo com vetos a Coura no Planalto. Além da preocupação com o conflito de interesses, o grupo ligado ao governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), tenta emplacar no posto o ex-presidente da Eletronuclear Flávio Decat, apoiado pela chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Um dos menos ligados à área energética é o atual diretor do Detran no Pará, Lívio Rodrigues de Assis, indicado por Jader Barbalho (PMDB-PA) para a presidência da Eletronorte. Outro é o ex-deputado Jorge Boeira, apadrinhado da senadora Ideli Salvatti (PT-SC) para a Eletrosul.

Ex-diretor de concessões de operações rodoviárias do antigo DNER no governo Itamar Franco, Livio foi demitido pelo então ministro dos Transportes Eliseu Padilha, no auge de denúncias de corrupção envolvendo o extinto DNER, hoje Dnit. Se nomeado, Lívio administrará na Eletronorte um orçamento este ano de R$5,4 bilhões. Engenheiro civil, ele é especialista em distribuição de energia elétrica e engenharia rodoviária. A família de Jorge Boeira, apadrinhado de Ideli para Eletrosul, tem empresas na área de revestimentos cerâmicos e metalurgia, em Criciúma (SC). Depois do apoio de Ideli a Renan Calheiros, o PMDB fez um acordo.

O PMDB já tem Luiz Paulo Conde no comando de Furnas, que terá este ano orçamento de R$7 bilhões. E o PR quer a presidência da Chesf, com orçamento de R$7 bilhões, para o ex-governador do Ceará e ex-tucano Lúcio Alcântara.

COLABOROU Gustavo Paul

(O Globo - 25/01/08)

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Lula: Novo apagão só 'se mundo acabar' e 'se não chover nunca mais'

Rodrigo Vizeu
O Globo Online - BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a afastar o risco de um apagão de energia no país. Durante a posse do senador Edison Lobão (PMDB-MA) como novo ministro de Minas e Energia, afirmou que uma nova crise elétrica só vai ocorrer "se o mundo acabar" e "se não chover nunca mais". Lula reclamou dos que parecem que não querem que as coisas aconteçam no país e disse que às vezes lê artigos de gente "que parece que quer que a crise americana atinja o Brasil".
- Posso lhe dizer, ministro Lobão, que, com a sua experiência política, você terá uma surpresa extraordinária na hora em que tiver acesso a todas as obras de energia que estão acontecendo no nosso país - disse.
Afirmando que o governo quer que o Brasil tenha energia de sobra, Lula afirmou que a prioridade número um do gás é garantir energia para o país. Ele prometeu que na hora em que faltar água nas hidrelétricas, o gás vai para as termelétricas. O presidente defendeu a construção da hidrelétrica de Belo Monte (PA), "que era assunto proibido", e comemorou o sucesso do leilão da usina de Santo Antônio, no rio Madeira (RO).
- Havia nesse país gente que dizia que não era possível vender o megawatt/hora pelo preço que queríamos. Diziam que não ia ter concorrência, que ia ser um fracasso. Não apenas apareceram cinco empresas como quem venceu baixou o preço - afirmou Lula.
(O Globo Online - 22/01/08)

Lobão defende hidrelétricas e quer ampliar energia nuclear

LORENNA RODRIGUES
da Folha Online, em Brasília
LÍSIA GUSMÃO - Colaboração para a Folha Online, em Brasília

O novo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, defendeu o uso de fontes hídricas e a ampliação do parque nuclear brasileiro. De acordo com Lobão, o ministério deverá investir em novos leilões para contratação de usinas hidrelétricas, a exemplo do leilão da usina de Santo Antônio, no Madeira, feito no fim do ano passado.
"O Brasil é um país privilegiado em fontes energéticas, a começar pelas riquezas de origem hídrica. Temos que investir nessa alternativa e seguir licitando aproveitamentos hidrelétricos", declarou, após a cerimônia de posse.
Lobão disse ainda que pretende ampliar o parque de geração dos atuais 2 mil MW para 8 mil MW, cerca de 8% da matriz energética brasileira.
"As térmicas nucleares já se mostraram alternativas seguras de produção de energia. Também geram a preços atrativos e surgem como solução de curto prazo para mitigar as emissões de carbono", afirmou.
O ministro defendeu ainda mudanças no Código de Mineração para aumentar os investimentos no setor. Ele ressaltou que a legislação é de 1967 e está desatualizada.
(Folha Online - 22/01/08)

Usina terá equipamento anti-invasão

Em tempos de risco de desabastecimento de energia elétrica, o Ministério de Minas e Energia decidiu reforçar a proteção a uma de suas principais usinas, a de Tucuruí, no Pará, a 389 quilômetros de Belém. Em maio do ano passado, a usina foi palco de uma invasão de sem-terra e movimentos de atingidos por barragens, que chegaram a fazer um funcionário refém.
Controladora da usina, a estatal Eletronorte abriu licitação para comprar equipamentos para seus seguranças. Encabeçam a relação 36 pares de “caneleiras anti-tumulto” que, segundo o edital de licitação, devem ser “resistentes a golpe substancial de armas não balísticas”. Também estão sendo adquiridas “cotoveleiras para utilização em ação tática” e “luvas para utilização em distúrbio urbano” feitas de espuma.
Escudos, capacetes e coletes de uso controlado pelo Exército, além de 36 pares de tonfa - espécie de cassetete oriental com empunhadura vertical, muito comum em filmes de artes marciais -, completam a lista. Sessenta rolos de arame farpado novo em folha cercarão o local.
A Eletronorte não comentou as novas compras.
O gasto total poderá chegar a R$ 218 mil, segundo o edital (o preço final dependerá do vencedor). A usina de Tucuruí é a segunda maior do país, com potência de geração de 4.000 MW.
A invasão da usina, em maio do ano passado, durou dois dias. Cerca de 600 pessoas ligadas ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), à Via Campesina e ao MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) entraram na usina após vencer a resistência de alguns poucos policiais militares que estavam no local. (BRASÍLIA, DF, Folhapress).
(Diário do Pará - 22/01/08)

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Resposta à nota do Diário do Pará

Vazão do Xingu - Base da contestação do Ministério Público Federal a Belo Monte, a pesquisa “Tenotã-mõ”, com alertas a danos de projetos hidrelétricos no rio Xingu, do pesquisador Glenn Switkes, informa que a própria Eletronorte considera janeiro um dos meses de maior vazão do rio. E não mês de seca, como observou a coluna. A estiagem na região vai de julho a dezembro. Switkes diz que mesmo a vazão de 4,5 mil metros cúbicos por segundo é baixa para janeiro e poderia gerar pouco mais de 2 mil MW, e nunca 4 mil MW.

(Diário do Pará – coluna Repórter Diário - 16/01/08)

Nota do jornal Diário do Pará

Belo Monte - Na semana em que o fantasma do apagão volta a rondar o país, eis que o rio Xingu, em Altamira, atingiu ontem a cota de 94,71 metros e uma vazão de 4.530 metros cúbicos por segundo. Os números desmontam um dos principais argumentos contra a futura Usina de Belo Monte: a de que a hidrelétrica, no período da seca, não geraria energia suficiente. A marca alcançada ontem significa que Belo Monte, que operaria na cota 97, geraria, mesmo na época de seca, aproximadamente 4 mil MWh.

(Diário do Pará – coluna Repórter Diário - 15/01/08)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Energia alternativa é discutida

Os impactos econômicos, sociais e ambientais de matrizes energéticas tradicionais e o uso de fontes alternativas têm sido discutidos em diferentes países, tanto pela sociedade quanto por gestores e comunidade científica.
Os assuntos ganham força na Amazônia, fonte de recursos naturais, e devem estar em foco durante o Fórum Social Mundial e o Fórum de Autoridade Locais, marcados para janeiro de 2009. Para acompanhar esse debate, o governo do Pará dá continuidade aos seminários preparatórios aos encontros nos próximos dias 15 e 16 de janeiro, de 8 às 18 horas
“ Energia na Amazônia: uma necessidade humana e um desafio ambiental” será o tema do seminário deste mês, promovido pela Secretaria de Estado de Governo (Segov) e Coordenadoria de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (Cids), no Hangar - Centro de Convenções e Feiras da Amazônia.
Alberto Matta, coordenador da Câmara da Política Setorial de Infra-estrutura e Transportes da Segov, informa que uma das formas escolhidas para qualificar as discussões do seminário foi convidar representantes de diferentes segmentos sociais.
Entre eles, responsáveis por geração e distribuição de energia elétrica, como a Eletronorte.
Também estarão presentes representantes de setores que buscam difundir práticas alternativas para geração de energia, tanto para o aproveitamento elétrico quanto para uso industrial.
Nesta perspectiva, foram convidadas as universidades federais do Pará - UFPA (biocombustíveis e energia eólica e solar) e Federal Rural da Amazônia - UFRA (biomassa), a empresa Gás do Pará (geração a gás) e a Petrobrás (combustíveis fósseis). Um representante do Ministério das Minas e Energia apresentará um painel sobre o planejamento energético do Brasil. As temáticas serão discutidas em três grupos de trabalho, que sistematizarão informações para o documento final.
O seminário terá um convidado internacional, o sindicalista italiano Mario Agostinelli, fundador do Contrato Mundial pela Energia, organização que luta pela adoção de um modelo energético preocupado com o esgotamento dos recursos naturais e com a crise climática do planeta.
(Diário do Pará – 14/01/08)

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Eólica investe R$ 120 milhões no Nordeste

Maurício Capela, de São Paulo

O empresário Everaldo Feitosa engorda as estatísticas. Controlador integral da Eólica Tecnologia, Feitosa faz parte de um grupo de investidores do setor de energia no país que aguarda o sinal verde do Ministério de Minas e Energia sobre a realização ou não do primeiro leilão de megawatts de fonte eólica no Brasil.
A julgar pelo preço da energia no mercado livre é bom o governo federal buscar mesmo a diversificação de sua matriz, porque o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), indicador medido pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e que serve de referência para os grandes consumidores de energia no segmento livre, disparou na semana de 5 a 11 de janeiro de 2008. De acordo com a CCEE, o preço do MWh para as cargas pesadas, por exemplo, saltou de R$ 247,01 para R$ 475,53, alta de 92%.
"O PLD só mostra que o nível dos reservatórios está ruim, mesmo no início do período chuvoso", explica o economista Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE). "Pelo jeito, neste ano, dependeremos das chuvas, do humor do presidente boliviano Evo Morales e do crescimento econômico do país", acrescenta Pires.
Mesmo diante deste cenário de preços em alta, o leilão ainda não tem data para sair do papel, apesar dos rumores apontarem para o primeiro trimestre de 2008. Com preço e prazo de contratação diferenciados em relação às demais fontes do insumo, o proprietário da Eólica Tecnologia garante que poderia negociar no pregão até 500 megawatts (MW).
"A expectativa é comercializar esse volume no leilão", conta Feitosa. Tanto é assim que o empresário diz ao Valor que tirar do papel essa quantidade de energia por meio da fonte eólica deverá custar perto US$ 2 milhões por MW instalado.
Mas enquanto o sinal verde do ministério não surge, Feitosa vai tratando dos últimos detalhes das usinas eólicas que a sua companhia vai erguer em Pernambuco e na Paraíba. Segundo cálculos do empresário, juntos, os projetos vão gerar 25,5 MW de energia e propiciar um faturamento anual conjunto de R$ 20 milhões.
"Espero colocá-los em operação até dezembro", conta Feitosa. Juntas, as usinas demandarão investimentos de R$ 130 milhões, mas a parte que cabe à Eólica é de R$ 120 milhões. Feitosa explica também que 20% sairá dos cofres do grupo e o restante virá de financiamentos do Banco do Nordeste e da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Todas as usinas fazem parte do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) e ficam no semi-árido nordestino.
Apesar de ter o pé em dois estados diferentes, Feitosa explica que as usinas pernambucanas vão consumir mais recursos, até porque possuem capacidade maior. Neste estado, o parque eólico será de 21,25 MW e consumirá ao redor de R$ 110 milhões do investimento total desenhado. Segundo a companhia, essas usinas serão capazes de abastecer ao redor de 37 mil residências, levando-se em conta um consumo individual de 150 quilowatt/hora (kWh). Em outras palavras, este montante equivale a uma população de 150 mil habitantes.
Mas não é só pelo tamanho do projeto que os recursos alocados em Pernambuco são maiores que os da Paraíba. Isso acontece também porque no projeto paraibano, a Eólica se associou a um empresário local. Cada um dos parceiros tem 50%, proporção válida para o investimento de R$ 20 milhões.
(Valor Econômico - 08/01/08)

Dependência de Hidrelétricas: novo apagão pode vir antes de 2010

A excessiva dependência das hidrelétricas é apontada por relatório da consultoria internacional Frost & Sullivan como principal fator de risco ao setor energético brasileiro. O documento, assinado pelo consultor Jorge de Rosa e divulgado no fim de 2007, alerta para o risco de racionamento antes de 2010, caso a estiagem prossiga. Como não há tempo hábil para novas obras nem gás natural para gerar todas as térmicas, dizem especialistas, no curto prazo o País terá de contar com ´a ajuda de São Pedro´, aponta.
´Parte importante da solução passa por uma maior diversificação da matriz energética´, diz Rosa, que defende maiores incentivos a fontes alternativas, como biomassa, eólica e nuclear. Em 2005, por exemplo, 91% da capacidade geradora de energia do País era proveniente de hidrelétricas. Mesmo as alternativas atuais não têm se mostrado eficazes, pois não há gás natural suficiente para gerar todas as térmicas.
A expectativa é de disputa cada vez maior entre os diversos consumidores do combustível. ´É um momento de estresse dos mercados de energia e, principalmente, de gás, que será disputado pelos setores industrial e energético nos próximos meses´, aponta o professor Nivalde de Castro, do Grupo de Estudos em Energia Elétrica da UFRJ (Gesel). Em alguns casos, o ONS chegou a determinar a abertura de comportas para evitar danos às usinas. No Nordeste, o ONS está usando usinas a diesel, que foram construídas como seguro-apagão no período do racionamento.
(Diário do Nordeste - 08/01/08)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Ibama quer acelerar licenças ambientais em 2008

Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) pretende reduzir em até 70% o tempo de tramitação dos pedidos de licenciamento ambiental neste ano. A informação é do diretor de licenciamento ambiental do órgão, Roberto Messias Franco. “O que durava 100, vai durar 30 dias; o que durava 1000, vai ser feito em 300”, explica.
O diretor afirma que o aumento na velocidade de avaliação vai se dar por meio da integração e treinamento das superintendências regionais do Ibama e de parcerias com universidades, o que, segundo ele, não comprometerá a qualidade dos processos.
Na avaliação do coordenador de políticas públicas da organização não-governamental Greenpeace, Sérgio Leitão, “a via rápida” de aprovação de licenças ambientais responde a interesses desenvolvimentistas do governo federal, mas deixa a desejar no atendimento de interesses da sociedade.
"Não consigo partilhar do otimismo do diretor de licenciamento do Ibama porque eu estou preocupado com a resposta que o órgão deve dar à sociedade”, avaliou.
A usina hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, a Ferrovia Transnordestina e mais de 100 áreas para exploração de gás e petróleo pela Petrobrás deverão receber licença ambiental em 2008, de acordo com o Ibama. Segundo o órgão, em 2007 foram concedidas 317 licenças ambientais, um crescimento de 14% em relação ao ano interior.
(Agência Brasil - 05/01/08)

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

O ano da energia limpa

Por Camila Fusco e Sérgio Teixeira Jr.

O ano de 2008 será decisivo para a corrida das energias renováveis e, mais uma vez, o Brasil vai ocupar uma posição de destaque mundial. Embora os investimentos em alternativas ao petróleo e ao carvão venham crescendo de forma acelerada nos últimos dois anos -- chegaram a 85 bilhões de dólares em 2007, crescimento de 20% sobre o ano anterior --, um eventual aperto nos mercados de crédito mundiais pode limitar os recursos destinados ao setor. Ninguém se arrisca a fazer previsões sobre os rumos da economia mundial no próximo ano, especialmente a dos Estados Unidos, mas parece claro que uma desaceleração representará inevitável atraso no desenvolvimento de alternativas aos combustíveis fósseis. Os financiadores das novas tecnologias energéticas têm os olhos fixos no mercado de capitais -- as empresas de energia solar estiveram entre as estrelas da bolsa americana Nasdaq este ano --, e a perspectiva de um mercado pouco receptivo certamente vai diminuir o apetite dos capitalistas de risco. Ao mesmo tempo, devem crescer as pressões por subsídios e regulamentações que ajudem a viabilizar as fontes de energia limpa. Ainda é infinitamente mais barato empurrar a economia adiante jogando dióxido de carbono na atmosfera e, sem incentivos ou obrigações, argumentam os investidores e empreendedores, o planeta não vai conseguir reduzir sua dependência dos vilões da mudança no clima. O complexo jogo de forças da matriz energética planetária deve ser um dos principais itens da agenda dos líderes globais, sejam eles das empresas ou dos governos -- e todos vão olhar para as bem-sucedidas experiências brasileiras.

O maior exemplo, claro, é a produção de etanol. Enquanto os produtores americanos ainda dependem de pesadíssimos subsídios governamentais, o combustível brasileiro hoje é extremamente competitivo. E deve surgir uma novidade importante entre os produtores de cana-de-açúcar: além de abastecer os carros de etanol, a planta será cada vez mais usada na geração de eletricidade. Hoje, as usinas aproveitam apenas cerca de um terço do bagaço e da palha da cana para gerar energia elétrica -- que, em geral, é consumida na produção de álcool e açúcar. Os dois terços desperdiçados têm um enorme valor, e ele começará aparecer em 2008, com maior aproveitamento da biomassa. De acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), o potencial elétrico da biomassa da cana já é equivalente à produção esperada da hidrelétrica do rio Madeira e, em cinco anos, será igual à da usina de Itaipu. Mas, para que essa promessa se concretize, falta uma definição política: o governo precisa tomar a decisão de incentivar essa energia limpa pagando melhores preços. "Se o governo está mesmo preocupado com a crise energética, deve criar incentivos fiscais para o desenvolvimento de energias alternativas", diz Marcos Jank, presidente da Unica. "Queremos que o álcool seja o primeiro produto, a eletricidade, o segundo, e o açúcar, o terceiro." Além do preço, existe um outro fator importante: como ligar as usinas à rede elétrica. O investimento não é pequeno -- mas certamente os custos de transmissão serão menores do que os das usinas da Amazônia.

Decisões tomadas hoje são importantes, pois as energias alternativas exigem um longo processo de desenvolvimento tecnológico, ganhos de escala e maturação. "Estamos em plena reestruturação cultural. Serão necessários pelo menos 20 anos para transformar os hábitos em relação de energia", diz Michael Liebreich, presidente da New Energy Finance, consultoria britância, e um dos maiores especialistas do mundo em energia renovável. A tecnologia de painéis solares já é conhecida há décadas, mas ainda tem um custo alto de produção quando comparada às fontes tradicionais. O mesmo vale para a energia eólica. O país tem grande potencial para ambas, mas elas ainda não são subexploradas. É claro que o Brasil é o país dos rios e das hidrelétricas, uma tecnologia dominada e que oferece um dos melhores custos de produção do mundo. Ainda assim, mais poderia ser feito, dizem os especialistas. O Proinfa, programa do governo federal para estimular pequenas hidrelétricas e fontes alternativas de eletricidade, tem resultados muito tímidos, diz Célio Bermann, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia: "Até o fim de 2006, o Proinfa não chegou a 23% das metas estabelecidas." Uma das principais críticas diz respeito à estabilidade das regras. Existem vários projetos de energia eólica já aprovados, mas que não são levados adiante porque não há garantia de que a energia será comprada a preços que justifiquem os investimentos. Além do aprendizado tecnológico, existem razões estratégicas para o investimento. "É um ciclo inversamente proporcional. Quando o nível dos rios está mais baixo é quando os ventos sopram mais forte, enquanto a época de ventos mais fracos é a de maior vazão nos rios", diz Sérgio Marques, presidente da Bioenergy, empresa que opera turbinas de vento na Região Nordeste. Finalmente, há muito o que fazer em termos de economia e eficiência. Hoje, 15% em média de toda a energia elétrica que é gerada é perdida no caminho de transmissão até a casa do usuário. Com uma redução de apenas 10% nesse desperdício, o ganho seria enorme. "Seria a mesma coisa a construir outra usina do porte do rio Madeira em um intervalo de tempo muito mais curto e com muito menos recursos", diz Bermann, da USP. Como se vê, com um pouco de visão estratégica e determinação, o Brasil pode consolidar sua posição como referência mundial nas energias do futuro.
(Revista Exame - 29/12/07)