segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Audiência Pública

Belo Monte - A Eletrobrás e a Eletronorte mostram ao público na terça-feira, em Belém e Altamira, estudos em análise na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que integram o inventário hidrelétrico da bacia do Xingu, onde o governo federal pretende construir a usina de Belo Monte. Na capital, os técnicos das estatais expõem os resultados da investigação a partir das 14 horas, no Museu Goeldi, e depois participam, junto com autoridades ambientais do governo estadual, de coletiva à imprensa.

(Diário do Pará – 15/12/07)

De Florianópolis a Bali

José Goldemberg

O fim do ano de 2007 foi marcado por um número significativo de conferências internacionais dedicadas ao desenvolvimento sustentável. Entenda-se por isto um desenvolvimento que pode durar, e não um desenvolvimento que redunde apenas num crescimento ininterrupto da renda, como entendem erroneamente certas autoridades. Na visão delas, produto interno bruto é o que conta, não um índice de desenvolvimento humano que meça a qualidade de vida, e não apenas a renda.

Para garantir um desenvolvimento sustentado é preciso energia, e o mundo moderno vive consumindo os recursos naturais fósseis - petróleo, gás e carvão -, o que não pode durar, porque eles são finitos e os principais responsáveis pela poluição. A solução existe e se baseia na busca de energias renováveis, por vários caminhos: hidrelétrica, dos ventos, solar térmica, fotovoltaica e, principalmente, a energia armazenada nas plantas, a biomassa.

Em Bali se discutiu, embora sem muito sucesso - apesar da recente adesão da Austrália -, como reduzir as emissões resultantes do uso de combustíveis fósseis e como essa redução deve ser distribuída entre os vários países, desde os grandes poluidores, como EUA, China e Brasil, até as prováveis vítimas do aquecimento global, como Bangladesh.

Em Florianópolis, há algumas semanas, discutiu-se o que fazer para manter o Brasil num rumo que seja sustentável do ponto de vista energético e ambiental. A ocasião foi um Fórum de Energia Renovável e Sustentabilidade, chamado de Ecopower, organizado com competência e com o apoio do governo de Santa Catarina. Abrilhantou a reunião a conferência de Mohamed Yunes, fundador do “banco dos pobres” em Bangladesh e que recebeu, por seu trabalho inovador, o Prêmio Nobel da Paz.

Os problemas que o Brasil enfrenta nesta área são basicamente desmatamento e como manter “limpa” a nossa matriz energética.

O desmatamento da Amazônia poderá levar boa parte daquela região a se transformar numa savana, o que terá seriíssimas conseqüências para o clima do País, já que o desmatamento é o principal contribuidor das nossas emissões de carbono e objeto de críticas generalizadas dentro e fora do Brasil. Como evitar este desmatamento e gerar empregos e renda para os mais de 20 milhões que lá vivem é o grande desafio. Foi lembrado em Florianópolis o exemplo do Estado do Amazonas, onde 98% da cobertura florestal está intacta, uma vez que a Zona Franca de Manaus oferece uma alternativa de empregos e renda. Foi discutida também a ingênua proposta que o governo federal levou a Bali, de cobrar dos países ricos recursos paras manter a “floresta em pé” por meio da filantropia internacional. Seria menos ingênuo dar créditos de carbono aos países ricos (ou empresas) que pagassem pela proteção da floresta, o que é rejeitado pelo governo com base no dúbio argumento de que “nossa idéia não é preservar a Amazônia para que os outros possam emitir”, nas palavras do secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco. O próprio presidente da República declarou recentemente que os países ricos emitiram no passado e agora chegou a nossa vez de nos desenvolvermos (e, portanto, emitir). A concepção do governo federal é errada, porque é possível se desenvolver sem repetir os erros do passado, mesmo porque não se conheciam na época as graves conseqüências que o desmatamento traria.

A expansão da produção de eletricidade, que até agora é mais de 80% hidrelétrica (portanto, “limpa”), é o outro grande problema. Segundo o presidente da Empresa de Planejamento Energético, Maurício Tolmasquim, o governo quer expandir a produção de eletricidade na Amazônia, mas a oposição dos ambientalistas está inviabilizando essa solução. Daí a segunda opção, que é aumentar a geração térmica à base de carvão e a energia nuclear, que são mais “sujas” que as hidrelétricas. Na realidade, as térmicas a carvão estão vencendo os leilões de novas usinas, não por culpa dos ambientalistas, mas do modelo de licitação usado pelo governo, que privilegia os projetos que forneçam eletricidade ao menor preço. É o mesmo modelo usado na licitação de rodovias. Sucede que gerar energia tem conseqüências ambientais muito mais sérias do que construir e operar uma rodovia, e os leilões deveriam contemplar estas diferenças.

Além disso, há outras energias “limpas”, às quais o governo federal não dá ênfase. A principal alternativa é mesmo a conservação de energia, isto é, a melhoria da eficiência dos equipamentos que geram e consomem eletricidade, o que outros países fazem há décadas. Juntam-se a isto as energias renováveis, como a queima de bagaço de cana para gerar eletricidade, que está crescendo muito em São Paulo, a energia dos ventos (no norte e no sul do País) e pequenas centrais hidrelétricas.

A falta de clareza e o desinteresse por estas soluções se refletiu na Conferência de Bali, onde o Brasil, a nosso ver, deveria ter proposto formas concretas de reduzir suas emissões, bem como as dos outros países em desenvolvimento, como China e Índia, o que forçaria os EUA a aceitarem também reduções. A situação atual é confortável para a China e para os EUA, que, juntos, respondem pela metade das emissões e fazem o jogo de se culpar mutuamente pelo problema.

Ações voluntárias, como as que o Brasil propôs, não impressionaram ninguém, porque não há forma de cobrar resultados nem permitem criar um mercado de venda de créditos de carbono.

A adoção de metas de redução e um calendário para atingi-las foi o que o Protocolo de Kyoto fez, e o Brasil não seria prejudicado se as aceitasse, porque a redução do desmatamento permitiria facilmente que tais metas fossem cumpridas.

José Goldemberg é professor da Universidade de São Paulo

(O Estado de S. Paulo - 17/12/07)

Governo deve acelerar projetos para garantir energia barata

por FERNANDO JASPER

O leilão da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, que inaugurou uma fase de grandes projetos energéticos na Amazônia, reduziu os temores de uma disparada dos preços da eletricidade e reforçou a tese de que o país deve concentrar esforços na exploração do potencial hidrelétrico de seus rios. Embora considerem pouco provável a repetição de preços tão baixos no leilão da usina de Jirau – a segunda do complexo hidrelétrico do Rio Madeira –, analistas não acreditam que os valores fiquem muito acima dos R$ 78,87 por megawatt-hora (MWh) oferecidos pelo consórcio que arrematou Santo Antônio.

Visto como surpreendente, o valor ficou 35% abaixo do teto estabelecido pelo governo, de R$ 122 por MWh. Quanto menor o preço da energia elétrica, maior a chance de as empresas brasileiras aumentarem sua produção mantendo a competitividade.

Mas os especialistas advertem que, para o país ter energia suficiente – e barata – na próxima década, o governo terá de agilizar, e muito, a análise de outros projetos desse tipo. O inventário hidrelétrico do Madeira, por exemplo, foi aprovado há cinco anos, e a primeira usina do rio só começa a funcionar em dezembro de 2012.

“O preço [da energia de Santo Antônio] é o fruto e a prova de que a vocação do Brasil é hidrelétrica. O problema é que leilões como esse estão demorando muito a acontecer, porque os projetos não estão sendo aprovados pela Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica]”, alerta Ivo Pugnaloni, diretor da consultoria Enercons, de Curitiba.

A preocupação tem fundamento. O consumo de eletricidade vem crescendo cerca de 5% ao ano. Se esse índice persistir, o país terá de acrescentar pelo menos 5 mil MW por ano em capacidade instalada. Na soma de Santo Antônio e Jirau – projeto muito semelhante, que deverá ser leiloado em maio –, o país terá acrescentado 4.040 MW médios de energia “firme” (garantida). Ou seja, as hidrelétricas do Madeira não bastam para atender ao crescimento do consumo.

Segundo Pugnaloni, da Enercons, projetos de expansão do parque gerador não faltam: a Aneel teria 27 mil MW em hidrelétricas “na prateleira”, à espera de aprovação. “O governo federal precisa escolher. Ele pode prejudicar toda a população, obrigando-a a pagar preços altos, ou mesmo a ficar no escuro. Ou pode dobrar o corpo de analistas da Aneel, que está com absoluta falta de pessoal.” A Aneel não comentou as declarações.

“As usinas do Madeira são as primeiras de grande porte depois de muito tempo. O Brasil precisa acelerar outros grandes projetos, como o da hidrelétrica de Belo Monte [no Rio Xingu, no Pará], que têm trâmite mais demorado e são difíceis de tirar do papel”, defende Edmar de Almeida, professor do grupo de Economia da Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Por enquanto, o projeto de Belo Monte ainda está na fase de estudos de viabilidade. O Ministério de Minas e Energia (MME) espera colocar a usina em leilão em 2009. Mais cautelosa, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), também ligada ao governo federal, acredita em leilão no início de 2010. O projeto de Belo Monte é gigantesco: com 11 mil MW de potência, a usina seria a segunda maior do país, atrás apenas de Itaipu (14 mil MW).

“Na região amazônica, sempre há uma resistência, louvável, por parte dos ambientalistas, principalmente após o desastre econômico e ambiental que foi a usina de Balbina”, diz José Alexandre Hage, da Trevisan Consultoria, referindo-se à hidrelétrica do rio Uatumã, no Amazonas, que alagou uma área nove vezes maior que a prevista para Santo Antônio mas tem potência treze vezes menor. “Mas não é por isso que tudo dará errado na Amazônia. Deve-se explorar seu potencial, com o mínimo impacto ambiental.”

(Gazeta do Povo/PR - 17/12/07)

EPE anuncia novo aproveitamento hidrelétrico de grande porte na Amazônia

Fábio Couto, da Agência CanalEnergia, Expansão

Em meio à conclusão do processo de oferta da hidrelétrica de Santo Antônio (RO, 3.150 MW), a Empresa de Pesquisa Energética anunciou a descoberta de mais um aproveitamento hidrelétrico que pode resultar em um empreendimento de grande porte na Amazônia. Resultados preliminares dos estudos de inventário realizados na bacia do Rio Tapajós (PA) apontam para a construção da usina de São Luiz, com capacidade instalada estimada de 9.080 MW. O aproveitamento pode ser licitado em 2011, segundo o presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Mauricio Tolmasquim.

Na avaliação do executivo, o empreendimento é mais um sinal de que a Amazônia apresenta grande potencial hídrico a ser explorado de forma bem-sucedida. Durante participação no Seminário "Leilão do Rio Madeira", realizado pelo Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, para analisar o desfecho do leilão de Santo Antônio, Tolmasquim comparou a região amazônica ao megacampo de petróleo encontrado pela Petrobras na fase de pré-sal, numa área litorânea entre o Espírito Santo e Santa Catarina.

"Temos um manancial de energia na Amazônia. Esse é o Tupi do setor elétrico", disse Tolmasquim. De acordo com ele, o novo aproveitamento deve ser incluído na edição 2008/2017 do Plano Decenal da Expansão da Energia. Nesse sentido, comentou, o governo está prevendo a licitação de uma série de hidrelétricas de grande porte na região nos próximos anos.

Após Santo Antônio, a próxima usina será Jirau (RO, 3.300 MW), em maio de 2008; sendo seguida por Belo Monte (PA, 11.182 MW), com licitação prevista para acontecer entre o final de 2009 e o início de 2010 -, com Marabá (PA, 2.160 MW) sendo ofertada no decorrer de 2010, além da negociação de São Luiz em 2011.

(Canal Energia – 13/12/07)

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Hidrelétrica de Belo Monte pode ir a leilão em 2009

Leonardo Goy

O governo pretende leiloar em 2009 a Hidrelétrica Belo Monte, no Pará. “Ainda não sabemos se isso é factível. Estamos em contato com a área ambiental e com as empresas que estão fazendo os estudos”, comentou o ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner. “Se tivermos a licença ambiental prévia até o primeiro semestre de 2009, faremos o leilão nesse mesmo ano.”
O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, foi um pouco mais cauteloso, e disse que a usina deve ser licitada no fim de 2009 ou começo de 2010. O projeto original de Belo Monte, no Rio Xingu, prevê a construção de um empreendimento de 11 mil megawatts (MW).
(O Estado de S. Paulo - 13/12/07)

Governo define calendário de licitação das hidrelétricas do país

De acordo com a Rádio Jovem Pan, o governo definiu o calendário de licitações das grandes hidroelétrias do país. Depois de Jirau, em Rondônia, aparecem Belo Monte,em São Luís do Tapajós no Pará; e Marabá em Tocantins. Apesar da definição o presidente da empresa de pesquisa energética disse que o calendário pode ser alterado no decorrer dos processos. Mauricio Tomasquim lembrou que as obras dependem da concessão de licenças ambientais.
(Rádio Jovem Pan - 13/12/07)

Ibama diz que "libera" Santo Antônio em 2008

MARTA SALOMON - DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Ibama, órgão de licenciamento ambiental do governo, deverá autorizar o início das obras da hidrelétrica de Santo Antônio, no rio Madeira (RO), até o início do segundo semestre do ano que vem, antes do período de chuvas na região, previu o diretor de licenciamento e presidente em exercício do instituto, Roberto Messias.
Não há, no entanto, previsão para o licenciamento das demais usinas na Amazônia que o governo pretende levar a leilão depois da usina de Jirau, também no rio Madeira.
Apenas na semana passada, a usina de Belo Monte, no rio Xingu (PA), teve definido o termo de referência, que orienta a confecção do estudo de impacto ambiental.
Os demais empreendimentos estão ainda mais distantes de concluir a primeira etapa do licenciamento -preliminar para o leilão.
Messias disse que a concessão de licença de instalação para a usina de Santo Antônio não vai demorar mais do que seis meses se o consórcio Madeira Energia, vencedor do leilão, apresentar o projeto básico ambiental da obra "bem feito, redondo".
O porta-voz do consórcio e diretor de investimentos da empreiteira Odebrecht, Irineu Meirelles, disse que o pedido de autorização para o início das obras será apresentado ao Ibama em janeiro. A intenção do consórcio é antecipar para maio de 2012 o início do funcionamento das primeiras das 44 turbinas da hidrelétrica.
A energia extra gerada entre maio e dezembro de 2012 seria vendida a grandes consumidores, no mercado livre, por um preço maior do que o negociado com as distribuidoras (R$ 78,87 por MWh).
Essa diferença teria sido considerada no lance que liquidou o leilão de Santo Antônio em apenas sete minutos, com 35% de deságio em relação ao teto da tarifa estabelecido pela Aneel.
O Ibama disse que está reforçando a diretoria de licenciamento para tentar reduzir em até 60% o período de tramitação dos processos.
(Folha de S. Paulo - 13/12/07)

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Funai deve aprovar Belo Monte



Maurício Capela

A Fundação Nacional do Índio (Funai) deverá conceder, no início de 2008, o Termo de Referência ao consórcio que capitaneia os estudos de viabilidade para a construção da hidrelétrica de Belo Monte. O documento da Funai, assim como o Termo de Referência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), é peça fundamental no processo de obtenção das licenças que vão permitir a realização do leilão da hidrelétrica. Segundo o Ministério de Minas e Energia, a intenção do governo é licitar a obra em 2009.
A Funai explicou ao Valor que, na próxima semana, a Eletrobrás e sua controlada Eletronorte, em parceria com a fundação, vão iniciar um trabalho de campo nas terras que estão no raio de abrangência da hidrelétrica. A idéia é que executivos das companhias e funcionários da Funai tirem dúvidas dos povos indígenas da região. Além de Eletrobrás e Eletronorte, o consórcio que estuda a obra é formado por Andrade Gutierrez, Odebrecht e Camargo Corrêa.
Mas se o documento da fundação indígena ainda não é realidade, o mesmo não se pode dizer sobre o termo do Ibama. É que na semana passada o instituto concedeu o termo de referência ao consórcio, que segundo a própria instituição é o primeiro passo para a obtenção do licenciamento ambiental.
De acordo com a Eletrobrás, o sinal verde de Funai e Ibama é importante, porque ao lado do estudo de viabilidade econômica, compõem o trio de exigências do decreto legislativo 788 de julho de 2005. Este decreto é o documento que regulamenta a retomada do processo de licitação de Belo Monte.
Considerado fundamental para aumentar a capacidade de geração futura no Brasil, já que deverá acrescer 11,181 mil megawatts (MW) a um custo estimado de US$ 3,7 bilhões, Belo Monte também já foi objeto do desejo de outros governos brasileiros. A primeira tentativa de usar o aproveitamento hídrico do rio Xingu no Estado do Pará para gerar energia aconteceu na década de 80. Depois, outra investida foi feita nos anos 90, mas em ambas situações questões relacionadas às comunidades indígenas e a área alagada impediram que a obra saísse do papel.
Segundo a Eletronorte, a revisão do inventário, que atualmente está em análise na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), demonstrou que apenas a localidade de Belo Monte é economicamente e ambientalmente viável na bacia do rio Xingu. Feito nos últimos dois anos, essa revisão acabou também excluindo outros dois possíveis eixos de exploração hídrica, que poderiam servir na construção de outras usinas e que faziam parte dos documentos dos anos 80 e 90. De acordo com a controlada da Eletrobrás, a retirada desses dois eixos obedeceu a uma análise institucional, socioeconômica e energética.
Procurada, a Aneel afirmou ao Valor que não há prazo para terminar a análise deste inventário. E acrescentou que, como o documento não faz parte do trio de exigências do decreto de julho de 2005, não atrapalha o andamento do estudo de viabilidade econômica e tampouco a obtenção das demais licenças.
"Acredito que haverá mais entraves ambientais para a concessão do licenciamento para Belo Monte do que nas hidrelétricas do rio Madeira", avalia Diego Nuñéz, analista de Energia da Brascan Corretora. Para Nuñéz, questões relacionadas à reserva indígena e discussões sobre o tamanho da área alagada deverão dominar os debates futuros. "A magnitude do projeto é maior também", acrescenta. De fato, Belo Monte tem praticamente o dobro de potência em relação à soma das duas hidrelétricas do rio Madeira.
De acordo com os dados iniciais do consórcio formado para realizar os estudos de viabilidade do projeto, a área alagada na região deverá alcançar 440 quilômetros quadrados, sendo que 200 quilômetros quadrados desse total correspondem as cheias anuais do rio Xingu. Além disso, o documento do consórcio mostra que terra indígena alguma será alvo de alagamento, segundo o novo formato do empreendimento. "A relação entre área alagada e potência instalada de Belo Monte é de 0,04 quilômetros quadrados por megawatt gerado", diz o documento.
O analista da Brascan Corretora lembra ainda que a intenção do governo é dividir o projeto em duas partes. Sendo assim, haveria um primeiro leilão de 5,5 mil MW e outro que licitaria o restante. "Se não houver o leilão de Belo Monte, certamente o Brasil precisará de uma outra fonte de energia que provavelmente será mais cara", diz
(Valor Econômico - 12/12/07)

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Ibama concede termo de referência à Belo Monte

O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis informou nesta sexta-feira, 7 de dezembro, que entregou à Eletronorte o termo de referência para a realização do estudo de impacto ambiental da hidrelétrica Belo Monte (PA, 11.181 MW em duas fases). O termo de referência, que foi entregue à estatal na última quinta-feira, 6 de dezembro, faz parte do processo de licenciamento. Segundo o Ibama, o termo lista uma série de questões a serem respondidas pelo empreendedor no ato da elaboração do EIA/Rima.
(Canal Energia - 07/12/07)

Consórcio leva hidrelétrica com tarifa 35% mais baixa

Gustavo Paul e Mônica Tavares

Depois de seis anos de estudos e quase nove meses de suspense, devido a questões ambientais e à ameaça de batalha judicial, em apenas sete minutos foi licitada, ontem, a concessão para a construção da usina de Santo Antônio, a primeira do Complexo do Rio Madeira, que fica na Região Amazônica, a última fronteira hidrelétrica do país. Franco favorito, o consórcio Madeira Energia - construtoras Norberto Odebrecht e Andrade Gutierrez, estatais Furnas e Cemig e bancos Banif e Santander - surpreendeu ao apresentar deságio de 35,3% sobre o preço máximo estabelecido para a tarifa. Com isso, a economia para a sociedade será de pelo menos R$20 bilhões nos 30 anos de concessão, podendo chegar a R$30 bilhões, caso seja considerada a potência máxima da usina, segundo cálculos da Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça.
O consórcio ofereceu tarifa de R$78,89 por megawatt/hora, enquanto o preço máximo era de R$122. Mas, ao longo da concessão, as distribuidoras pagarão alguns centavos a menos: R$78,87. Pela regra, como o consórcio optou por vender uma parte da energia no mercado livre, terá de dar um desconto na tarifa cobrada das distribuidoras. O preço será reajustado segundo a inflação do período.
Reeditando o leilão de concessão de rodovias federais, ocorrido em novembro, os vencedores ganharam de lavada. As duas outras ofertas - eram três consórcios na disputa - foram de R$98,05 e R$94, deságios de 19,6% e 22,9%, respectivamente. Com isso, o leilão não passou da primeira fase. O Ministério de Minas e Energia não informou quais as ofertas feitas por cada proponente. Estavam na disputa os consórcios Energia Sustentável do Brasil (Suez Energy e Eletrosul) e Empresas Investimentos de Santo Antônio (Construtora Camargo Corrêa, Chesf, CPFL e Endesa).
As regras permitiam que os vencedores destinassem pelo menos 70% da energia aos consumidores comuns, que se abastecem das distribuidoras estaduais. Foi o percentual proposto pelo Madeira Energia. Os demais 30% serão vendidos no mercado livre, onde o valor da energia oscila de acordo com a oferta e a demanda. Por isso, observadores entendem que a estratégia do consórcio será elevar o preço nessas negociações, para compensar a outra tarifa mais baixa. O resultado do leilão também gerou, entre concorrentes e especialistas, a desconfiança de que o consórcio vá investir menos que o previsto ou de que sócios privados sairão do projeto.
Já o governo comemorou bastante o sucesso do primeiro grande leilão de uma obra de energia do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e admitiu que foi surpreendido com o lance. Esperava-se que o deságio não chegasse nem perto do obtido no leilão das rodovias, em que o desconto proposto no pedágio chegou a 65%.
A usina, que vai demandar R$10 bilhões de investimentos, segundo Irineu Meirelles, presidente do consórcio vencedor - o governo vinha falando em R$9,5 bilhões -, começará a ser construída entre o fim do primeiro semestre e outubro de 2008, e vai gerar energia no fim de 2012. Sua conclusão está prevista para 2016. A potência da usina é de 3.168 megawatts (MW).
Após a posse da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que se mostraram equivocadas as análises de que o leilão não se realizaria:
- Estou muito feliz, porque na concorrência da hidrelétrica do Madeira tivemos um deságio de 35%, que é uma coisa extraordinária, porque havia muita gente pessimista dizendo que não ia acontecer, não ia acontecer, e não só apareceram cinco empresas como o megawatt que estava previsto para ser US$116 foi US$78,9, que é um ganho. Em fevereiro vamos ter outro leilão e, se Deus quiser, não pararemos mais de ter leilões - disse, equivocando-se sobre os valores, a moeda das tarifas e a data do próximo leilão, de Jirau, que será em maio.
Eletrobrás também entrará em Jirau
Ciente de que a participação estatal foi decisiva para derrubar a tarifa, o governo informou que as empresas da Eletrobrás participarão da licitação de Jirau, porém ainda será estudado o modelo para outras usinas (como Belo Monte). O ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner, comemorou:
- Não achei que conseguiríamos chegar a esse valor. É um resultado surpreendente e um momento histórico - afirmou, admitindo que acreditava em um valor pouco inferior a R$100.
Para Hubner, o baixo valor da tarifa, que irá financiar a construção da usina, não significa risco de interrupção nas obras ou problemas para a conclusão. Um dos fatores é a exigência de depósito de uma garantia de R$650 milhões até o cumprimento das obrigações da concessão.
- São grupos experientes que sabem suas responsabilidades. Não temos essa preocupação, pois exigimos garantias pesadas. Agora, como eles montaram sua engenharia financeira não nos preocupa.
Para a secretária de Direito Econômico, Mariana Tavares, foi o esforço do governo em garantir a concorrência que conseguiu reduzir a tarifa-teto:
- Que bom que ele (o consórcio) ganhou tendo competido arduamente. Essa é a prova mais concreta de que a concorrência é boa e garante economia para o bolso do consumidor.
Para Irineu Meirelles, o resultado coroou o esforço de seis anos de trabalho e muitos percalços. Em outubro, o grupo foi acusado pela SDE de adotar práticas anticoncorrenciais ao exigir cláusulas de exclusividade a fornecedores.
- A vitória é fruto de um estudo feito com muitos detalhes pela empresa e por Furnas - disse Meirelles.
O BNDES irá financiar 75% da obra, enquanto os demais 25% ficarão a cargo do próprio consórcio. A homologação dos vencedores ocorrerá no dia 19 de fevereiro.
COLABOROU Luiza Damé, enviada especial
(O Globo - 12/11/07)

Ambientalistas pretendem barrar projeto

MARINA FALEIROS

No que depender das organizações ambientais que atuam na região do Rio Madeira, a hidrelétrica de Santo Antônio não deverá sair com tanta facilidade do papel. Por enquanto, duas ações estão em trâmite na justiça e tentam impedir a validade do leilão realizado ontem.
Uma foi enviada pelo Ministério Público de Rondônia e a outra, pela ONG Amigos da Terra. Esta última deverá ter um pedido de liminar julgado ainda nesta semana.
Para Gustavo Pimentel, gerente da Amigos da Terra, um grande problema envolvendo o projeto foi a troca da diretoria do Ibama, ocorrida depois que o instituto soltou um parecer técnico, em março, contra a licença ambiental prévia para a usina. "A licença saiu em julho, mas só se tornou pública em novembro, sem que quase nada do que havia sido pedido pelos técnicos anteriores tenha sido feito."
Glenn Switkes, diretor da ONG americana International Rivers para a América Latina, diz que o projeto do rio Madeira "é o pior caso de grande empreendimento realizado na Amazônia, feito contra pareceres de vários especialistas e técnicos da própria agência de proteção ambiental", também citando a troca da diretoria do Ibama.
Ele acredita que o leilão da usina de Santo Antônio é muito preocupante porque indica o esforço do governo para aprovar no futuro mais projetos que vão causar impactos em terras indígenas e na floresta Amazônica. "Se de um lado o governo passa uma imagem de que está tentando diminuir os desmatamentos, do outro traz as usinas, com uma série de impactos ambientais diretas e ecológicos."
Pimentel acredita que uma solução alternativa para a construção da hidrelétrica seria trocar equipamentos de usinas antigas. "Novas turbinas poderiam aumentar a eficiência das hidrelétricas existentes em 8 mil MW em dois anos, o que seria mais do que todo o projeto do Rio Madeira."
Conforme Iremar Antonio Ferreira, da Campanha Rio Madeira Vivo, muitas discussões ainda estão por vir, inclusive com entidades também da Bolívia, já que a próxima hidrelétrica a ser leiloada será a de Jirau, na fronteira. "Estamos tratando da articulação com companheiros de outros movimentos, e vamos seguir o caminho da usina de Belo Monte, na área do rio Xingu e que está em discussão há 20 anos."
(Folha de S. Paulo - 11/12/07)

Região Norte é a última fronteira elétrica do País

Renée Pereira e Agnaldo Brito

O governo federal quer leiloar até 2010 cerca de 25,7 mil megawatts em aproveitamentos hidrelétricos disponíveis na Região Norte - a nova fronteira elétrica do País. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o resultado do leilão da Hidrelétrica Santo Antonio demonstrou a viabilidade ambiental, econômica e, principalmente, tarifária dos projetos nos rios amazônicos.
O presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, afirmou que o governo já definiu as prioridades para novos leilões de usinas na região. A próxima disputa será a da Usina de Jirau, que também faz parte do Complexo do Rio Madeira. A previsão é que a concessão de Jirau, que já tem licença ambiental prévia, ocorra em maio de 2008, afirmou ontem o ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner.
As demais usinas, ainda sem licença ambiental, são: Belo Monte, no Rio Xingu, Marabá, no Rio Tocantins, e São Luiz, no Rio Tapajós. A prioridade seguirá essa ordem, disse Tolmasquim. Todas essas usinas estão previstas no Plano Decenal de Energia 2007-2016.
No caso de Belo Monte, empreendimento projetado para alcançar uma capacidade total de 11 mil MW (embora o governo considere a possibilidade de dar a concessão da primeira parte de 5.500 MW), o termo de referência - primeira etapa do licenciamento ambiental - foi dado pelo Ibama. Os empreendedores vão preparar agora o estudo de impacto ambiental. As audiências públicas para discutir o projeto com a população começou em setembro.
A Usina Marabá, de 2.160 MW, está na fase de estudo de viabilidade, mas já provoca protestos de ambientalistas. A meta do governo, disse Tolmasquim, é fazer a concessão dessa usina em 2010. Por fim, o governo aposta na concessão da Usina Hidrelétrica São Luiz, que será instalada no Rio Tapajós, que corta a face oeste do Estado do Pará.
A potência instalada estimada pela EPE é de 9 mil MW para esse empreendimento. “O leilão de ontem mostrou que os projetos hidrelétricos na Amazônia são viáveis e, principalmente, baratos. Isso abre uma excelente perspectiva para os projetos naquela região”, diz o presidente da EPE.
Calcula-se que o Brasil tenha cerca de 150 mil MW de energia a ser explorada nos próximos anos, segundo dados da UFRJ. Desse total, 70% está localizado na região amazônica. “Essa é a nova fronteira elétrica do País”, destaca o professor da UFRJ, Nivalde Castro. Segundo ele, a construção das hidrelétricas do Rio Madeira deve destravar as demais obras da região, já que houve uma amadurecimento do País em relação às questões ambientais.
O presidente do conselho de administração da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace), Lindolfo Paixão, também acredita que a experiência adquirida no Rio Madeira facilite o andamento dos demais projetos. “Mas cada empreendimento é um empreendimento, especialmente quando se trata da Região Norte, onde a questão ambiental é delicada.”
Paixão destaca que o País não tem outra alternativa, a não ser explorar os projetos na região amazônica. “Não há mais aproveitamento nas outras regiões. O Nordeste e Sudeste já não têm potencial para hidrelétricas há alguma tempo. O Sul tem alguma coisa, mas para suprir um ano de demanda adicional”, diz ele. Outro ponto importante é que, exceto no caso de Belo Monte, quase todas as hidrelétricas em estudo têm capacidade inferior a 3 mil MW.
(O Estado de S. Paulo - 11/12/07)

Os vencedores

A surpresa não foi quem ganhou o leilão da primeira hidrelétrica do Rio Madeira. Ganharam quem fez o estudo de viabilidade e o projeto, Odebrecht e Furnas. A surpresa foi o preço: muito mais baixo do que todos esperavam. "Agora está todo mundo coçando a cabeça para entender", disse um especialista em energia. Energia mais barata; melhor para o consumidor. Mas eles podem aproveitar algumas brechas.
Uma brecha é a seguinte: produzir energia no Norte tem incentivo fiscal. Ou seja, eles pagarão menos impostos do que se fizessem em outras áreas. Mas isso está à disposição de todos, não apenas do casal Odebrecht-Furnas. Até os projetos recentemente aprovados de termelétricas a carvão e a óleo combustível, mais agressivas ao meio ambiente, terão incentivo fiscal.
Outro truque é a parceria. A Odebrecht está com uma empresa estatal - e, por isso, todos os grupos quiseram estatal nos consórcios -, o que dilui o risco. Terceiro, fala-se que o BNDES, além de ser o financiador com condições excepcionais, pode vir a ser também um dos sócios. E mais: fundos de pensão de estatais podem acabar entrando como sócios no grupo vencedor. Por fim, outra forma de reduzir o custo será a associação com a Vale do Rio Doce. Se ela entrar como sócia e consumidora, caracteriza-se como um "autoprodutor" e, por isso, pode deixar de pagar duas importantes taxas que encarecem a energia para o comum dos mortais: a CCC e a CDE (Conta de Consumo de Combustíveis e Conta de Desenvolvimento Energético). O autoprodutor é isento dessas cobranças.
Com tudo isso, o leilão pode ser considerado um sucesso da perspectiva do consumidor, porque o preço que eles aceitam receber com cada megawatt/hora é 35% mais baixo que o estabelecido pelo governo no leilão. Ganhava a menor tarifa.
No mercado, economistas que acompanharam o assunto e empresas da área de energia acham que o consórcio tem que ganhar muito dinheiro na obra para compensar a proposta feita. Um dos especialistas argumentou o seguinte: a obra estava estimada em R$9,5 bilhões, para gerar 2.200 MW médios de energia firme, o que daria mais ou menos R$4.300 por kW médio. Isso do lado do custo. Do lado da receita, a energia foi vendida a R$78,9 MWh, mas esse preço é para os 70% que vão para as distribuidoras. Uma parte da compensação o grupo pode tirar dos outros 30%, que vão para o consumidor livre, e isso pode sair em torno de R$140 MWh, o que daria um preço médio de R$97 MWh. Enfim, esse especialista fez as contas de mais e menos e chegou à conclusão de que eles trabalharam com um retorno de 4% a 4,5%, o que é considerado baixíssimo. Os empreendedores, normalmente, exigem retorno de 7% a 8%. A tarifa inclui a linha de transmissão, que entrou na conta por R$25 o MWh. Isso significa que o preço mesmo da energia será de menos de R$55 o MWh; bem abaixo do preço de outros empreendimentos.
Outro especialista da área de energia calcula que a conta só fecha se o grupo Odebrecht-Furnas apresentar um projeto muito melhor do que aquele que ele preparou no estudo de viabilidade.
- Isso mostra que o melhor é, no futuro, proibir quem faz o projeto de viabilidade de participar do leilão.
No passado, a forma mais comum de ganhar uma licitação era aceitar um preço baixo para a obra e, depois, pedir novos aditivos ao contrato. Eram os contratos do tipo cost plus. Será que vai ser assim novamente? Os especialistas em energia explicam que, desta vez, vai ser difícil usar o truque do aditivo, pois o tipo de contrato é diferente. A empresa que faz a obra tem que começar com um grande desembolso, depositando a garantia de 7% do valor da obra e, além disso, o construtor recebe no final, quando já estiver construída.
Será um desafio e tanto; e vai marcar a forma de exploração dos novos potenciais hidrelétricos remanescentes. São todos na Amazônia, numa época em que a questão ambiental assumiu proporção muito maior em relação ao apoio que tem na sociedade. A pior hidrelétrica da Amazônia em termos ambientais é Balbina, que fez o máximo de estrago para o mínimo de geração. De lá para cá, muita coisa mudou. A hidrelétrica de Estreito, em Tocantins, foi a primeira dessa série, mas não tem a importância de e não é tão emblemática quanto Madeira. E, mesmo assim, enfrentou muitas resistências.
A licença prévia foi concedida pelo Ibama com uma série de condicionantes que terão que ser seguidos agora se o consórcio quiser a licença de instalação. Isso torna o começo da obra ainda uma incerteza.
Mas, se tudo der certo, a hidrelétrica de Santo Antônio estará produzindo seus primeiros 1.000 MW em 2013. A usina não entra integralmente em operação em 2013; apenas uma parte dela.
Há enormes incertezas. É a primeira vez que se faz uma hidrelétrica deste tamanho usando tecnologia bulbo no mundo. A turbina bulbo tem a vantagem de alagar menos e poder trabalhar com pequenas quedas de água, mas por isso tem sido usada somente em hidrelétricas menores. Dessa dimensão é a primeira vez. Serão 44 turbinas instaladas no rio. Técnicos ainda têm dúvida se o sedimento do Madeira não tornará essa hidrelétrica de difícil operação.
Santo Antônio e Jirau - a próxima a ser licitada - marcarão a forma de aproveitamento hidrelétrico dos rios da Amazônia. Os projetos hidrelétricos na floresta serão sempre conflituosos, incertos, arriscados.
(O Globo – coluna Panorama Econômico - Miriam Leitão - 11/12/07)

Índios bloqueiam três usinas hidrelétricas em Mato Grosso

RODRIGO VARGAS - DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ

Índios da etnia Enawanê-Nawê bloqueiam há cinco dias a estrada de acesso às obras de três pequenas centrais hidrelétricas em construção no rio Juruena, em Sapezal (480 km de Cuiabá). Cerca de 350 funcionários estão impedidos de sair.
Representantes da Funai, do Ministério Público Federal e da Sema (Secretaria Estadual de Meio Ambiente) devem chegar hoje ao local para negociar a liberação dos funcionários.
Os índios querem a realização de mais estudos de impacto ambiental e defendem nova proposta de compensação às cinco etnias que serão atingidas com as obras. Elas integram um complexo de dez usinas que serão erguidas em seqüência nos próximos anos.
Cinco delas, incluindo as três que são alvo do protesto, pertencem à Juruena Participações S.A. -que reúne a Linear Participação e Incorporações e MCA Energia e Barragens. As outras estão em fase de licenciamento ambiental e serão construídas pela Maggi Energia, do governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR).
Segundo o superintendente de Infra-Estrutura da Sema, Salatiel Araújo, todo o processo vem seguindo a legislação ambiental. ´´Os estudos atestam que o impacto será muito pequeno, para o ambiente e para os índios.´´
Os enawenê-nawês se alimentam exclusivamente de peixes da bacia do rio Juruena. Eles temem que as obras afetem os cardumes.
A Folha falou com a Juruena Participações, que apenas forneceu o telefone de Rômulo Vandoni, assessor para assuntos indígenas do governo Maggi. ´´Acho que a situação será resolvida amanhã [hoje]´´, disse ele.
(Folha de S. Paulo - 11/12/07)

ONG diz que Brasil deve usar Bacia do Amazonas para produzir energia

A organização não-governamental Global Coral Reef Alliance defende que o Brasil deveria usar as correntes de água na Bacia do Amazonas para produzir energia.
O presidente da ONG, Thomas Goreau, afirmou que isto seria "como ter uma central hidroelétrica sem precisar de uma represa".
Segundo Goreau, o Brasil tem ótimas condições para gerar energia das correntes na Bacia do Amazonas, onde há centenas de anos as tribos indígenas já usavam sistemas rudimentares para aproveitar as fortes correntes do rio.
Esta fonte energética renovável é uma das mais baratas e eficientes, mas até agora praticamente ninguém mostrou um interesse real em sua implementação, e não há um mandato expresso da ONU que peça para os governos a promoverem, indicou Goreau.
Usinas
O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), criado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, prevê a construção de usinas para a exploração energética por meio de hidrelétricas na Amazônia.
Em uma obra de custo estimado em R$ 9,5 bilhões, a usina de Santo Antônio (RO) --no complexo do rio Madeira-- marca, na visão do governo, a retomada dos grandes projetos na região, segundo noticiou a Folha Online neste domingo.
Nesta segunda (10), o governo abre licitação para construção e operação da usina por três consórcios privados, em parceria com estatais
Projeções oficiais indicam a exploração de pelo menos 43 mil MW na região na próxima década, o que corresponde a três usinas de Itaipu.
O Plano Nacional de Recursos Hídricos estima em pouco mais de 132 mil MW o potencial energético dos rios amazônicos, incluindo a bacia do Tocantins.
Resta inexplorada a maior parte desse potencial --equivalente a sete usinas de Três Gargantas, na China, a maior hidrelétrica do mundo.
O governo estuda a construção de mais quatro usinas no complexo amazônico: Jirau (também no rio Madeira); Belo Monte (no rio Xingu), com potencial estimado em 11.181 MW; Marabá (rio Tocantins) e a usina de São Luiz (rio Tapajós).
Energia amazônica
Além do Brasil, outros países da América Latina como Argentina, Equador e Panamá poderiam se beneficiar desta fonte energética.
Com menos dinheiro do que lhes custaria estabelecer uma usina nuclear, as regiões situadas nas proximidades de grandes correntes como o sul da Argentina ou o leste da China teriam coberta toda a sua demanda de energia de uma forma limpa e sustentável, segundo o analista.
Segundo a ONG, o aproveitamento de menos de 1% da energia produzida pelas correntes de água seria suficiente para satisfazer toda a demanda energética do planeta.
Goreau recebeu este ano um prêmio do prestigioso Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) por seu trabalho nesta área.
Com Efe
(Folha Online - 10/12/07)

Polícia prende 7 pessoas durante invasão da Aneel



A Polícia Militar do Distrito Federal afirmou que "há informações" de funcionários da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que foram agredidos por manifestantes que ocuparam, esta manhã, o prédio do órgão regulador, por cerca de quatro horas. Segundo o tenente Ricardo Ferreira Napoleão, do Batalhão de Operações Especiais, pelo menos sete pessoas foram detidas, algumas delas algemadas, por acusação de agressão e dano ao patrimônio público. Entre elas estariam lideranças de vários movimentos.

O oficial afirmou que a polícia está fazendo um levantamento sobre as possíveis agressões e eventuais prejuízos à estrutura da Aneel, em Brasília.

Informações preliminares, de pessoas que acompanharam de perto o tumulto, dão conta de que os manifestantes desmontaram uma estrutura montada para recepcionar os participantes do leilão da hidrelétrica Santo Antônio, no Rio Madeira (RO) e a imprensa, porém não conseguiram avançar até o local onde será realizado o leilão.

Cerca de 300 integrantes da Via Campesina - organização sem fins lucrativos que luta pelos direitos de camponeses no mundo inteiro, enfocando questões como a reforma agrária, agroecologia e o fim de pesquisas e comercialização de transgênicos - invadiram na manhã de hoje, por volta das 6h15, a sede da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que realizará o leilão para a construção da primeira usina hidrelétrica no Rio Madeira.

O protesto é contra o leilão e, segundo o movimento, faz parte da "jornada de lutas nacional contra a privatização das águas e a atuação das transnacionais no Brasil".

Entenda o leilão

O leilão da Usina de Santo Antônio será realizado pela Aneel pelo sistema eletrônico, na sede do órgão em Brasília. Ganha quem oferecer a menor tarifa para a venda da energia, cujo preço teto é definido pelo Ministério de Minas e Energia.

O complexo hidrelétrico do Rio Madeira compreende, ainda, a construção de outras quatro usinas: a Usina Hidrelétrica de Jirau, também próxima a Porto Velho, capital do estado de Rondônia; uma usina binacional, chamada de Guajará-Mirim, na fronteira entre Brasil e Bolívia; e a usina Cachuela Esperanza, em território boliviano.

O leilão da segunda usina brasileira, de Jirau, está previsto para o início de 2008, em data ainda não confirmada pelo Ministério de Minas e Energia.

* Com informações de Eduardo Bresciani (Santafé Idéias), da Agência Brasil e da Agência Estado

(IG – 10/12/07)

Dou-lhe uma, duas...

Luís Osvaldo Grossmann - Da equipe do Correio


Mais do que a maior obra de infra-estrutura do Brasil atual, o leilão de hoje para a construção da primeira das duas usinas do Rio Madeira, em Rondônia, a de Santo Antônio, marca a retomada da exploração de eletricidade na última fronteira hídrica do país, justamente a com maior potencial: a Amazônia. A área da floresta tropical tem capacidade para triplicar a oferta de energia hidrelétrica — e isso numa nação que já conta com a força das águas para gerar 85% de sua matriz energética. Na fila estão Jirau, a segunda usina prevista para o Madeira, e Belo Monte, no Pará, que deve ser leiloada em 2009.

Claro que, como todos os temas que tratam de empreendimentos na Região Amazônica, a construção de hidrelétricas na floresta garante motivos de sobra para controvérsias. O próprio leilão desta segunda-feira sofre a ameaça de uma ação judicial movida por ambientalistas. Até aí não há surpresas num processo que começou há sete anos e foi várias vezes paralisado por discussões sobre o impacto no meio ambiente.

A própria licença para a construção da usina, uma obra estimada em R$ 9,5 bilhões e com capacidade média de geração de energia calculada em 2,1 mil megawatts/hora (MW/h), causou um racha no governo. Num país que de tempos em tempos flerta com a escassez de eletricidade, a área de energia do governo pressionava por mais rapidez no Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), uma vez que a geração de Santo Antônio, a primeira das duas usinas previstas para o Madeira, já estava na base do consumo previsto a partir de 2012.

Na berlinda, a área ambiental não escondia suas reservas à exploração na Amazônia e pedia tempo para avaliar o processo com cautela. Quando a versão preliminar da análise do Ibama foi negativa, o clima esquentou — teria provocado até bate-boca entre as ministras da Casa Civil, Dilma Rousseff, e de Meio Ambiente, Marina Silva —, a ponto de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fazer críticas públicas ao instituto. A licença acabou sendo concedida em setembro e o próprio Ibama admitiu que o trabalho seria referência para futuras construções de hidrelétricas na Região Amazônica.

Os dois lados da questão têm méritos. A fartura de água no Brasil deu ao país um diferencial no campo da energia, onde, como mencionado, 85% da eletricidade é hídrica. É uma fonte mais “limpa” que as termelétricas e mais barata, pois apesar do custo para erguer uma usina, o combustível é grátis. Como o potencial do Sul, Sudeste e mesmo do Nordeste já foi utilizado, e o consumo continua crescendo, resta a fronteira Norte.

Além disso, a ausência de novos projetos hidrelétricos na última década vêm levando o país ao uso cada vez mais intensivo de usinas movidas a óleo combustível ou carvão. E esse é um dos argumentos mais utilizados por quem defende a expansão para a Amazônia. Se a idéia é defender o meio ambiente, parece um contra-senso impedir o uso de usinas hídricas e, com isso, mover-se para a geração movida a combustíveis fósseis — o uso em larga escala da energia solar ou eólica ainda não tem custo competitivo.

Passado frustrante

Os ambientalistas, naturalmente, temem os impactos de grandes obras de infra-estrutura na maior biosfera do planeta, seja pelo desmatamento, pelo reflexo para quem depende dos rios para comer e viver, pelo fluxo migratório para a região e pelos efeitos sobre áreas indígenas. E talvez mais do que tudo isso, lembram que a última iniciativa semelhante do Brasil na Região da Amazônia, a hidrelétrica de Balbina, próxima a Manaus, teve um péssimo resultado.

Projetada ainda durante a ditadura militar, Balbina foi inaugurada em 1989 e inundou 2,4 mil quilômetros quadrados de florestas nativas. Apesar do lago gigantesco, foi erguida para gerar, no máximo, 250 MW. Quase 20 anos depois, porém, é de longe a mais ineficiente das 110 hidrelétricas do país, conseguindo meros 130 MW médios. Além disso, a vegetação submersa, que não foi retirada, gera 10 vezes mais gases poluentes do que uma termelétrica com a mesma capacidade. Com área inundada equivalente, Tucuruí, no Pará, pode gerar mais de 7 mil MW.

“As usinas do Madeira são uma fronteira importante para iniciarmos o aproveitamento da energia da região. E do ponto de vista da oferta e demanda de energia é fundamental para o país. Claro que é uma área que tem toda uma preocupação ambiental, especialmente depois que Balbina virou uma barreira negativa, mas a proposta ambiental agora é totalmente diferente”, diz o presidente da Comissão Especial de Licitação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Hélvio Guerra.

A principal diferença está na tecnologia utilizada em Santo Antônio, e que também será usada em Jirau. Trata-se do tipo de turbina, bulbo, especial para pequenas quedas d’água. Mesmo com 44 delas instaladas em cada hidrelétrica, a área alagada será consideravelmente menor (271 km²), pois não exige grandes reservatórios.

A expectativa é de que Jirau seja leiloada até o fim do primeiro semestre de 2008 e, como admitem integrantes do governo, há uma boa chance do vencedor de hoje arrematar também a segunda usina do Rio Madeira. “Quem ganhar o leilão tem vantagens no outro, sem dúvida, porque pode ter ganhos de escala”, reconheceu o presidente da Empresa de Pesquisa Energética, ligada ao Ministério de Minas e Energia, Maurício Tolmasquim.

A expansão na Amazônia continua com a hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará. A idéia é que a licença ambiental da usina — com potência prevista superior a 11 mil MW e reservatório de 400 km² — seja obtida no ano que vem para licitação em 2009.

Três grupos na disputa

Os três grupos que concorrem à obra de Santo Antônio foram oficializados há menos de 10 dias, mas a briga pela hidrelétrica começou muito antes. As construtoras Norberto Odebrecht e Camargo Corrêa travam uma guerra particular desde o anúncio da licença ambiental, em setembro. Uma briga com raízes mais profundas.

A Odebrecht se interessou pela obra ainda em 2003, quando obteve o direito de iniciar os estudos de viabilidade das hidrelétricas. Pouco depois, a empreiteira firmou um contrato com Furnas Centrais Elétricas, que previa sociedade para a construção das usinas. Esse contrato, porém, não só impedia a estatal de, em caso de separação, unir-se a outro concorrente, como também barrava as demais subsidiárias da Eletrobrás (Chesf, Eletronorte e Eletrosul) de competir também.

Apesar desse contrato ser de 2005, só este ano a extensão desses limites foi mensurada e entrou em colisão com os planos do governo para o leilão. A idéia do Ministério de Minas e Energia era deixar a disputa apenas para empresas privadas, ficando as estatais disponíveis para sociedade posterior.

Pressionado pelos outros interessados na obra, mas incapaz de desfazer o contrato entre Odebrecht e Furnas, o governo partiu para uma solução negociada com a construtora. As demais subsidiárias de Eletrobrás foram “liberadas” para se associarem aos outros concorrentes.

A Camargo Corrêa também questionou contratos de exclusividade que a Odebrecht firmara com fornecedores de equipamentos e a questão acabou levada ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A Odebrecht aceitou acordo e abriu mão das exclusividades. Durante esse processo, o leilão foi adiado três vezes.

A expectativa de compor quatro concorrentes, no entanto, acabou frustrada pela falta de um acordo entre a Eletronorte e o grupo liderado pela Alusa. Ambas chegaram a se inscrever separadamente, mas desistiram antes de entregar as garantias financeiras.

Além de Furnas, o consórcio liderado pela Odebrecht reúne a construtora Andrade Gutierrez, a também estatal Cemig e os bancos Santander e Banip. Com a Camargo Corrêa estão a Chesf, a CPFL energia e a espanhola Endesa. A Suez Energy South America, que no Brasil comanda a maior geradora privada de energia, uniu-se à Eletrosul. (LOG)

(Correio Braziliense – 10/12/07)

Exploração hidrelétrica volta à Amazônia

MARTA SALOMON - DA SUCURSAL DE BRASÍLIA


Até aqui o maior negócio do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) -uma obra de custo estimado em R$ 9,5 bilhões-, a usina de Santo Antônio, em Rondônia, marca a retomada dos grandes projetos de hidrelétricas na Amazônia, na avaliação do governo. Projeções oficiais indicam a exploração de pelo menos 43 mil MW na região na próxima década, o que corresponde a três usinas de Itaipu.

Os projetos em estudo pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética) ou com pedido de licenciamento ambiental correspondem a quase 14 vezes a potência da hidrelétrica de Santo Antônio, cuja construção e operação serão disputadas amanhã por três consórcios privados, em parceria com estatais. Ganhará o negócio quem oferecer a menor tarifa pela energia a ser gerada a partir do final de 2012.

"Esse leilão é um marco histórico por vários motivos, sobretudo pelo sinal de que o Brasil não fechou a porta ao grande potencial hidrelétrico que falta explorar na Amazônia", destacou Maurício Tolmasquim, presidente da EPE.

O Plano Nacional de Recursos Hídricos estima em pouco mais de 132 mil MW o potencial energético dos rios amazônicos, incluindo a bacia do Tocantins. Resta inexplorada a maior parte desse potencial -equivalente a sete usinas de Três Gargantas, na China, a maior hidrelétrica do mundo.

"Sem dúvida, a Amazônia é a grande fronteira energética do país", reconhece Raul do Valle, do ISA (Instituto Socioambiental), uma das ONGs envolvidas no debate. Ele avalia que a exploração dessa fronteira equivale a um "xeque-mate" nacional. "Não vai ser tão fácil implantar esses projetos", afirma Ricardo Baitelo, do Greenpeace, antecipando as pressões de organizações ambientalistas e de grupos indígenas contrários a grandes empreendimentos na Amazônia.

A construção de hidrelétricas de grande porte na região está paralisada há quase 30 anos. A retomada desse tipo de empreendimento foi sinalizada no início do ano, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou o PAC.

Vários projetos

A primeira usina a sair do papel foi Estreito, no rio Tocantins, quase na fronteira com o Pará. Com 1.087 MW de potência instalada, a hidrelétrica deverá entrar em operação em 2010. Quase três vezes maior, a usina de Santo Antônio -a primeira do complexo do rio Madeira- enfrentou um processo mais complicado de licenciamento ambiental, entraves à concorrência e vários atrasos até a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) divulgar o edital do leilão de amanhã. Daí ter-se tornado um símbolo.

Depois das duas usinas do Madeira -Santo Antônio e Jirau-, o cronograma dos su perempreendimentos amazônicos prevê a hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu. O projeto, com potência estimada em 11.181 MW, encontra-se ainda em fase preliminar de licenciamento no Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). O governo pretende levar a usina a leilão até o final do mandato de Lula.

Na seqüência dos grandes projetos, viria a hidrelétrica de Marabá, no rio Tocantins, também em estágio preliminar de licenciamento, e a usina de São Luiz, no rio Tapajós, ambas no Pará. Com usinas de menor porte que são objeto de estudo de viabilidade ou de inventário, o PAC apontou a possibilidade de exploração de mais de 58,7 mil MW na região Norte.

(Folha de S. Paulo – 09/12/07)

Hidrelétricas são ameaça à floresta, diz ambientalista

A exploração do potencial de energia hidrelétrica na Amazônia não chega a ser um tabu, mas é vista com preocupação por grupos ambientalistas ouvidos pela Folha. Os argumentos vão dos impactos de grandes usinas sobre a floresta e a atmosfera até a possibilidade de os empreendimentos esbarrarem em unidades de conservação ambiental e em territórios indígenas.

"Isso nos causa preocupação", disse Raul do Valle, coordenador do ISA (Instituto Socioambiental). "Não seria razoável dizer que o potencial energético da Amazônia não pode ser explorado, tampouco que pode ser explorado de qualquer jeito: essa é uma equação a ser resolvida."

Ricardo Baitelo, do Greenpeace, argumenta que as hidrelétricas, embora poluam menos do que as usinas térmicas a carvão e óleo e nucleares, enfrentarão grande resistência na Amazônia. "Não será tão fácil implementar esses projetos", insiste.

O Greenpeace leva em conta o cenário de demanda crescente de energia no país, mas defende a construção de pequenas usinas e reformas em hidrelétricas já existentes, além da exploração de energias renováveis, por meio de usinas eólicas (movidas pelo vento).

Alimentarão o debate estudos desenvolvidos nos últimos anos e que apontam o risco de hidrelétricas na Amazônia produzirem gases de efeito estufa em decorrência de características do solo e do clima da região.

"Tudo vai depender do local e da tecnologia que vão escolher", observa Alexandre Kemenes, pesquisador do LBA (Large Scale Biosphere-Atmosphere Experiment in Amazonia), programa que reúne várias instituições e conta com financiamento do Ministério de Ciência e Tecnologia.

"O país precisa de energia, e toda forma de energia vai poluir: a questão é como as hidrelétricas serão feitas", argumenta Kemenes, autor de tese de doutorado que apontou, em 2005, fatores que provocariam a emissão de carbono em hidrelétricas construídas na Amazônia.

O Ministério do Meio Ambiente informou que questões ambientais são levadas em conta na identificação do potencial hidrelétrico dos rios da região coordenada pelo Ministério de Minas e Energia.

(MS)

(Folha de S. Paulo – 09/12/07)

Energia do Rio Madeira será mais cara

Gustavo Paul e Mônica Tavares


Quatro anos depois de lançar o projeto de duas grandes usinas no Rio Madeira, em Rondônia, o governo vai finalmente começar a transformação desse sonho em eletricidade. Será realizado amanhã, na sede da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em Brasília, o leilão da primeira delas: a de Santo Antônio, que representa o início de um novo ciclo da energia hidráulica brasileira. A partir de agora, usinas "ecologicamente mais corretas", sem os grandes lagos que inundam milhares de quilômetros de fauna e flora, serão prioridade, segundo especialistas. A razão é simples: elas terão de se instalar na Região Amazônica, a última fronteira hidrelétrica do país. Dessa forma, o Complexo do Madeira constitui-se, também, em um grande teste.

Essa nova fronteira, porém, mudará o perfil de preço da energia hidrelétrica, usualmente mais barata do que as demais. A energia amazônica será necessariamente mais cara. Primeiro porque as usinas são distantes das grandes cidades e indústrias da região Centro-Sul. Outra razão é que, como não contam com as grandes áreas inundadas, não têm como garantir o fluxo de água nas turbinas em época de seca.

- Os projetos na Amazônia terão de seguir uma lógica diferente. Haverá diminuição da energia potencial das usinas, pois os rios têm períodos mais cheios e outros mais vazios. Além disso, o custo da transmissão será mais elevado - explicou o professor Ivan Camargo, do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de Brasília.

Outras fontes serão necessárias

Além disso, Santo Antônio dá o pontapé inicial no primeiro empreendimento de grande porte no país em 13 anos - Xingó (SE) ficou pronta em 1994. Outra novidade é a consolidação da parceria entre governo e iniciativa privada para tocar a obra. Sob essa perspectiva, significa ainda o retorno em peso do Estado aos megaempreendimentos de energia elétrica.

- Considero o Madeira um marco - resume o presidente da estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim.

A entrada das hidrelétricas do Madeira é emblemática para o futuro energético brasileiro. Com 70% de sua energia gerada pela força das águas, o Brasil só explorou 30% desse potencial. E é justamente na área em que o terreno do Planalto Central se transforma em planície amazônica que está o maior potencial hidrelétrico brasileiro. Não há espaço nas demais regiões para grandes empreendimentos, capazes de atender de uma só tacada ao crescimento da demanda do país. Segundo analistas, Sul, Sudeste e Nordeste poderão contribuir apenas com usinas médias e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs).

Mas, por enquanto, a Região Norte é uma promessa. Só existem ali mais três grandes projetos de usinas. Jirau, também no Madeira, é a irmã siamesa de Santo Antônio. Sua licitação, marcada inicialmente para março, foi transferida para maio de 2008, e é uma das vedetes do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Outra é Belo Monte, no Pará, que se arrasta há quase cinco anos e ainda aguarda licença para construção, empacada por razões ambientais. A terceira é Marabá, no Rio Tocantins, cujos estudos ambientais estão apenas começando.

A possibilidade de construção de grandes usinas na região ainda depende de estudos feitos pela EPE. Sete bacias estão sendo inventariadas para que se saiba se é possível a geração de até 28 mil MW - o equivalente a 25% do que o país produz hoje. Apenas o Rio Teles Pires, em Mato Grosso, já foi inventariado, e agora está na segunda fase de estudos. Ainda não se sabe, portanto, que grandes usinas podem surgir ou onde elas estarão.

Risco de apagão se modelo falhar

Por isso, paralelamente a esse mapeamento, os técnicos dizem que o Brasil terá que investir em outras fontes de energia, como a biomassa (a partir de bagaço de cana, dejetos etc.), a térmica (a mais poluente) e a nuclear (além da retomada de Angra 3, há estudos para a construção de outras nove usinas até 2030).

A concretização das demais obras em área amazônica dependerá do sucesso técnico e ambiental das usinas do Madeira. Construídas sob uma nova perspectiva tecnológica, a da energia gerada apenas pela velocidade da água, sem grandes reservatórios, as futuras usinas só serão viáveis se tiverem o menor impacto ambiental possível.

- Essas usinas podem tirar a virgindade da Amazônia, mostrando que é viável explorar energia de maneira sustentável - diz Mário Menel, presidente da Abiape, entidade que reúne autoprodutores de energia.

Além disso, Santo Antônio é a evidência de que, sem o capital privado, não haverá como fazer da floresta uma geradora de energia. O professor Nivalde Castro, do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ, lembra que, até os anos 80, as estatais respondiam pelas obras das usinas do país. Depois, o setor privado foi o motor das obras no governo de Fernando Henrique Cardoso. Agora, o modelo é misto, o que, em sua opinião, tende a ser o definitivo:

- Ele consolida um modelo de parceria estratégica entre o público e o privado. E ele tem de dar certo, senão vai ter apagão.

(O Globo – 09/12/07)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Santo Antônio é o primeiro passo rumo à Amazônia

Cláudia Schüffner

Na segunda-feira o governo federal retoma as grandes obras do setor elétrico, ao leiloar a licença para construção da usina hidrelétrica Santo Antônio, a primeira no rio Madeira. Com ela o país começa a explorar o potencial da bacia amazônica.
Santo Antônio terá capacidade de gerar 3,150 mil megawatts (MW) e o investimento previsto é de R$ 9,5 bilhões, em valores de 2006. Três consórcios, cada um associado com uma estatal, disputam a obra. Deles fazem parte multinacionais de geração como a espanhola Endesa e a franco-belga Suez Energy, e distribuidoras nacionais como a Cemig e a CPFL. Representando o estado estão Furnas, Chesf e Eletrosul, todas subsidiárias da Eletrobrás.
Inicialmente, prevista como obra sem qualquer concorrência, o projeto das duas usinas do Madeira - a segunda é Jirau, que será leiloada no próximo ano - foi concebido por um grupo liderado por Furnas e pela Odebrecht, que não esperava concorrentes. Posteriormente o governo decidiu forçar a competição através de um leilão, incentivando a participação de outros grupos. Foi quando se descobriu uma série de contratos de exclusividade firmados pela Odebrecht e Furnas com fabricantes de equipamentos, bancos e seguradoras que precisou ser desmontado com a entrada da Secretaria de Direito Econômico (SDE) e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Joísa Campanher Dutra, diretora da Aneel que relatou o edital de licitação de Santo Antônio, admite que apesar de terem sido feitos todos os esforços para democratizar as informações técnicas para todos os consórcios, "a assimetria entre os participantes é algo problemático", já que o consórcio Odebrecht-Furnas teve prazo maior para estudar o projeto das hidrelétricas.
A competição que se viu a partir daí - inclusive com um projeto alternativo produzido pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) - será benéfica para os consumidores. A tarifa inicial do leilão caiu quase R$ 50, passando de R$ 170 para os R$ 122 fixados como teto para o megawatt/hora (MW/h). Quem faz os cálculos é o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim. Ele se diz satisfeito com a participação de três grupos de porte e robustez econômica no leilão. E agora se diz aliviado.
"De todos os leilões que fizemos, esse é o mais tranqüilo. Quem quer que ganhe, é um bom ganhador. É a primeira vez que durmo tranqüilo às vésperas de um leilão", admite Tolmasquim. "Conseguimos ultrapassar um grande obstáculo ambiental e outro elemento importante é que os inscritos são extremamente robustos, tanto do ponto de vista técnico quanto financeiro. Se tivéssemos um aventureiro que ganhasse o leilão teríamos um pesadelo de três ou quatro anos de duração", completa o presidente da EPE.
O leilão da hidrelétrica Santo Antônio é do tipo reverso, ou seja, ganha quem oferecer o menor preço abaixo do teto, fixado em R$ 122 por MW/hora. A expectativa do governo é que não haja grande deságio. Ao final do leilão, o vencedor terá que informar ao governo quanto da energia da usina será oferecida para as 31 distribuidoras de energia elétrica que depositaram garantias e estão aptas a participar como um "pool" de compradores.
O edital exige que 70% da energia da usina sejam destinados aos clientes cativos das distribuidoras. Os 30% restantes podem, ou não, a critério do consórcio, serem vendidos para auto-produtores de energia ou oferecidos posteriormente no mercado livre. É uma boa oportunidade para grandes consumidores de energia e auto-produtores que operam no mercado "livre" comprarem energia mais em conta, dada a escassez de oferta de novos empreendimentos no país.
As negociações de auto-produtores com os líderes dos três consórcios foram intensas nos últimos dias. Mas o presidente da Associação Brasileira dos Investidores em Auto-Produção de Energia Elétrica (Abiape), Mario Menel, reclama do preço que está sendo oferecido para fechar o negócio antes do leilão, que é maior que o teto estipulado pelo governo para o leilão. A Abiape representa investidores de grande porte como a Vale, Gerdau e CSN.
"Eles (os consórcios) estão pedindo entre R$ 135 e R$ 140 por MW/h. É uma participação superior a 30% no investimento para se ter 30% da energia", ressalta Mario Menel.
O vencedor assinará o contrato de concessão em maio de 2008. Até lá, qualquer empresa pode entrar na Sociedade de Propósito Específico (SPE) usada como veículo pelo consórcio, desde que não tenha participado do leilão em outro grupo. Se Furnas-Odebrecht não ganharem, serão reembolsados em R$ 48,4 milhões pelos estudos de viabilidade e de impacto ambiental da obra. Os participantes vão ao leilão sem conhecer a taxa de compensação ambiental. Fixada com base no valor do investimento, atualmente o valor cobrado é de 0,5% mas o Ministério do Meio Ambiente prepara uma portaria para aumentar esse percentual para até 2%. O que deve acontecer é que provavelmente os consórcios serão conservadores ao fixar a tarifa.
No segundo semestre de 2008, o governo vai licitar a linha de transmissão de 2,5 mil quilômetros que vai carregar a energia de Santo Antônio até São Paulo, atravessando os estados de Rondônia e Mato Grosso. Grandes empresas de linhas de transmissão já estudam o projeto.
A última obra de grande porte construída no Brasil foi a hidrelétrica de Xingó, que é da década de 90 e tem capacidade instalada de gerar 3.000 MW no rio São Francisco. Apesar de ter 85% da matriz energética baseada em hidreletricidade - a maior do mundo, diga-se - o Brasil só utiliza um terço desse potencial. Dos dois terços inexplorados, 65% estão na Amazônia. (Colaborou Daniel Rittner, de Brasília)
(Valor Econômico - 07/12)

Ong tenta barrar leilão de usina no Madeira

JULIO WIZIACK

A organização não-governamental Amigos da Terra-Amazônia Brasileira entrou com uma ação pública na 4ª Vara da Justiça Federal, em Brasília, para impedir o leilão da hidrelétrica de Santo Antônio, no rio Madeira, em Rondônia, previsto para segunda-feira.
No processo, aparecem como réus o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e Furnas Centrais Elétricas.
Segundo Roberto Smeraldi, diretor da organização, essas instituições tentaram viabilizar a usina sem que os quesitos ambientais exigidos pela legislação fossem respeitados.
A ação se baseia em um parecer do próprio Ibama justificando a concessão da licença prévia (LP) para a usina. Segundo a Amigos da Terra, o parecer foi realizado em julho deste ano, mas sua divulgação foi adiada até o mês passado.
´´Parece que o Ibama protelou ao máximo a divulgação da justificativa da LP para viabilizar o leilão´´, afirma Smeraldi. ´´Eles queriam impedir que a LP fosse questionada.´´
Segundo a ação, em julho, já se sabia que as obras prejudicariam os depósitos de sedimentos no Madeira e trariam dificuldade para a pesca de espécies, além de comprometer a deposição de ovos e larvas.
Esses problemas tinham sido apontados em audiências públicas, mas, segundo a Amigos da Terra, elas só aconteceram em Porto Velho, desconsiderando as comunidades locais e indígenas que vivem em áreas mais afastadas e serão afetadas.
Ontem, 250 lideranças indígenas da Amazônia protocolaram um pedido de suspensão do leilão na Presidência da República. Eles alegam que não foram consultados.
Para a concessão de uma LP, todos os pedidos de ajustes no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) de uma obra precisam ser atendidos. O Ibama afirma, por meio de sua assessoria de imprensa, que todas as exigências foram cumpridas e que, por isso, a LP foi liberada.
Mas, de acordo com a ação, em março deste ano, técnicos do próprio Ibama haviam relatado as falhas existentes no EIA. Quatro meses depois, o atual diretor de licenciamento, Messias Franco, teria assinado um parecer comprovando que as irregularidades apontadas não tinham sido objeto de estudo até aquela data.
A ação pública movida pela Amigos da Terra reforça o processo aberto pelo Ministério Público Federal (MPF) de Rondônia, que, também em março deste ano, pediu o cancelamento do leilão. Entre os diversos motivos, o MPF alega que no EIA não constava o impacto que seria causado pela construção das redes de transmissão.
´´Retirar as linhas de transmissão do EIA é uma estratégia comum nesse tipo de projeto. É uma forma de agilizar a LP´´, afirma Gustavo Pimentel, gerente da Amigos da Terra. ´´Mas alguém já viu uma usina hidrelétrica operar sem suas redes de transmissão?´´
Até o fechamento desta edição, o juiz Náiber Pontes de Almeida, da 4ª Vara da Justiça Federal, não tinha decidido sobre o processo. Procurados pela Folha, Furnas e Aneel não se pronunciaram.
(Folha de S. Paulo - 07/12)

Camargo terá Tucuruí e Porce como modelos para obras no Madeira

Yan Boechat
07/12/2007

Em um vale com escarpas que não raro alcançam mil metros de altura no meio da floresta colombiana, aos pés da cordilheira andina, a Construtora Camargo Corrêa está realizando sua maior obra no exterior. É no meio desse vale cortado pelo Rio Porce e a 150 quilômetros de Medelin, a segunda maior cidade do país, que a empresa brasileira ergue a terceira maior hidrelétrica da Colômbia. Não chega a ser uma usina de grande porte quando comparada aos padrões brasileiros - terá apenas 660 megawatts. Mas os acidentes geográficos dessa região isolada, distante a mais de quatro horas de carro da principal cidade do Departamento de Antioquia por estradas extremamente sinuosas, fazem desta obra um dos cartões de visita preferidos da Camargo Corrêa.

Encravados nas encostas que fazem com que esse vale mais se pareça com um caniôn, mais de 2,5 mil homens estão construindo a usina de Porce III. Ali, tudo é difícil. Os trabalhadores e o maquinário se movimentam por estradas íngremes que cortam as escarpas, escavam túneis quilométricos na rocha maciça com a ajuda de equipamentos pesados e vivem quase como os petroleiros embarcados nas plataformas marinhas. São 15 dias de trabalho duro, vivendo confinados no acampamento, e apenas dois dias de folga, quando podem visitar as famílias.

Para construir Porce III foi criada quase uma cidade que, no pico das obras, terá mais de três mil habitantes. "Aqui temos tudo o que uma cidade pequena tem: posto médico, escolas, área de lazer e, claro, muito trabalho", diz Luiz Sérgio Matias Bueno, diretor-geral obra.

A usina colombiana é pequena quando comparada à gradiosidade da hidrelétrica Santo Antônio, localizada no Rio Madeira, em Rondônia, e que será leiloada na segunda-feira. Sua capacidade de geração é bem menor, as condições de construção das obras civis são de uma complexidade inferior ao trabalho que será executado no meio da floresta amazônica e os US$ 440 milhões em que está orçada representam pouco menos de 10% do valor total da primeira usina do complexo do Rio Madeira.

Ainda assim, ela é, na visão da construtora brasileira, uma de suas principais credenciais para conquistar o direito de construir Santo Antônio, uma usina com 3,15 mil megawatts, quase cinco vezes mais que a usina colombiana e orçada em cerca de R$ 9,5 bilhões. "O grande desafio do Madeira não é a questão tecnológica, isso ficará com os fornecedores de equipamentos", diz João Auler, vice-presidente da construtora. "O desafio será montar uma estrutura que funcione em uma região tão complexa como é a Amazônia".

Porce é apenas uma parte ínfima no que a Camargo Corrêa acredita ser seu maior ativo: a experiência em construir obras de engenharia complexas em áreas isoladas. O maior trunfo, na visão da companhia, é a experiência de ter erguido a usina de Tucuruí, também no meio da floresta amazônica, a 300 quilômetros de Belém do Pará. Para Auler, o diferencial na qualidade da obra virá exatamente do complexo logístico que precisará ser montado para que tudo corra bem em um região de tão difícil acesso.. "Em Tucuruí criamos uma estrutura fixa para sete mil homens, é essa capacidade de gerenciamento em áreas como essas que nos credencia". Em Santo Antônio, cerca de três mil operários vão trabalhar durante os seis anos de obras.

Tucurí é um exemplo de sucesso que a Camargo faz questão de não dividir com sua principal concorrente, que também inclui a construção da usina paraense entre seus feitos. "A Odebrecht diz que construiu Tucuruí, mas isso não é exatamente verdade", diz Auler. "Nós fizemos toda a obra, eles participaram apenas da instalação dos equipamentos".

A provocação de Auler é fácil de ser entendida. Camargo e Odebrecht são as principais rivais na disputa pelo direito de construir Santo Antônio, um projeto que deve envolver apenas nas obras civis algo próximo a R$ 5 bilhões. É até possível que nenhuma das duas faça parte da construção da usina, caso o consórcio liderado pela Belga Suez vença o leilão e escolha uma terceira construtora. Mas é muito improvável. Para o mercado, se a Suez vencer, uma ou as duas devem participar da construção. A Odebrecht, procurada pelo Valor repetidas vezes, desde o dia 22, preferiu não se manifestar sobre sua experiência no setor ou sobre o projeto Madeira.

Para a Camargo Corrêa participar da construção de Santo Antônio é quase uma obrigação. Auler utiliza como argumento principal o fato de a companhia ser uma das pioneiras na construção de hidrelétricas no país. "Mais de 50% da capacidade instalada no Brasil foi a Camargo que fez", diz ele. "Somos responsáveis por 7% da capacidade hidrelétrica mundial, não podemos ficar de fora de um projeto dessa magnitude". Mas, além das questões que tocam o orgulho histórico da empresa, a Camargo está de olho mesmo no gordo contrato que será assinado.

Se conseguir o direito de erguer a usina, sua carteira de contratos, que hoje é de R$ 7 bilhões, deve crescer mais de 50% - seu faturamento deve fechar este ano em R$ 3,3 bilhões. A Odebrecht, em 2006, tinha uma carteira de R$ 15 bilhões e receita de R$ 7 bilhões.

Hoje, o segmento hidrelétrico responde por cerca de 30% das receitas da Camargo e aproximadamente 25% de sua carteira de contratos. Neste momento, a companhia está construindo oito hidrelétricas, sete delas no Brasil. "O segmento hidrelétrico é extremamente importante e, nos próximos cinco anos, cerca de R$ 30 bilhões em potenciais contratos estarão no mercado apenas no Brasil", diz o vice-presidente da Camargo.

Apesar de todo retrospecto na construção de usinas hidrelétricas, a Camargo Corrêa nunca ergueu uma no formato que será a de Santo Antônio, que utilizará uma técnica conhecida como fio d"água. Em usinas desse tipo, a queda de água não é o fator principal na geração de energia. Usinas como essas, comuns na Europa, se utilizam da correnteza e do volume de vazão para fazer com que as turbinas, que nesse caso são instaladas horizontalmente, girem e produzam a energia elétrica. A Camargo é especializada em construir usinas que se aproveitam do desnível, como a de Porce, onde um túnel de 12 quilômetros de extensão transporta a água do reservatório até a turbina, utilizando o declive da montanha para que a energia seja gerada.

Talvez por isso a companhia tenha Porce e Tucuruí como seus maiores exemplos para mostrar ao governo e, eventualmente à própria Suez, de que é capaz de erguer um tipo de usina que nunca construiu antes.

O repórter viajou a convite da Camargo Corrêa

(Valor Econômico - 07/12)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Blix diz que hidrelétricas e etanol preocupam mais que projeto nuclear

Hans Blix, ex-inspetor da ONU para armas nucleares, opinou que, economicamente, 'não faz sentido' para o Brasil ter um programa de enriquecimento de urânio. Blix, que hoje coordena um centro contra a proliferação de armas nucleares foi alvo de uma polêmica antes da invasão americana no Iraque ao afirmar que não havia encontrado evidências de que o regime de Saddam Hussein possuía armas de destruição de massa.
Em entrevista à AE, o diplomata sueco defende o uso de energia nuclear, não vê o risco do desenvolvimento de uma arma nuclear na Venezuela e apóia a ampliação do número de usinas nucleares no Brasil. 'Estou mais preocupado com o impacto de hidrelétricas e do etanol na floresta amazônica do que com a segurança em Angra', disse.
Sobre os planos de governo brasileiro de retomar seu programa nuclear, Blix falou: 'Acho que faz total sentido ampliar o uso de energia nuclear no Brasil. O que não faz sentido é ter um programa de enriquecimento de urânio no País. Digo isso no sentido econômico mesmo. Não há porque manter todo o processo de enriquecimento, sendo que o País pode comprar o material facilmente. A Coréia do Sul conta com 20 usinas nucleares e nem por isso tem seu processo de enriquecimento. Se a Coréia com 20 usinas não tem, porque é que economicamente faria sentido para o Brasil com um número bem menor de usinas?'
Ele também negou que exista temor internacional de que o programa ou as iniciativas em Angra possam representar uma ameaça à estabilidade regional. 'Estou mais preocupado com o impacto de hidrelétricas e do etanol na floresta amazônica do que com a segurança em Angra. As usinas no Brasil são pequenas e o País tem certa experiência nisso já. Estou convencido de que o problema de mudanças climáticas representa uma ameaça mais importante ao mundo que uma eventual guerra nuclear ou uma ameaça regional'. E concluiu: 'Não levo a sério aqueles que afirmam lutar contra as mudanças climáticas, mas são contra a energia nuclear'.

(O Liberal - 06/12/07)