por FERNANDO JASPER
O leilão da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, que inaugurou uma fase de grandes projetos energéticos na Amazônia, reduziu os temores de uma disparada dos preços da eletricidade e reforçou a tese de que o país deve concentrar esforços na exploração do potencial hidrelétrico de seus rios. Embora considerem pouco provável a repetição de preços tão baixos no leilão da usina de Jirau – a segunda do complexo hidrelétrico do Rio Madeira –, analistas não acreditam que os valores fiquem muito acima dos R$ 78,87 por megawatt-hora (MWh) oferecidos pelo consórcio que arrematou Santo Antônio.
Visto como surpreendente, o valor ficou 35% abaixo do teto estabelecido pelo governo, de R$ 122 por MWh. Quanto menor o preço da energia elétrica, maior a chance de as empresas brasileiras aumentarem sua produção mantendo a competitividade.
Mas os especialistas advertem que, para o país ter energia suficiente – e barata – na próxima década, o governo terá de agilizar, e muito, a análise de outros projetos desse tipo. O inventário hidrelétrico do Madeira, por exemplo, foi aprovado há cinco anos, e a primeira usina do rio só começa a funcionar em dezembro de 2012.
“O preço [da energia de Santo Antônio] é o fruto e a prova de que a vocação do Brasil é hidrelétrica. O problema é que leilões como esse estão demorando muito a acontecer, porque os projetos não estão sendo aprovados pela Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica]”, alerta Ivo Pugnaloni, diretor da consultoria Enercons, de Curitiba.
A preocupação tem fundamento. O consumo de eletricidade vem crescendo cerca de 5% ao ano. Se esse índice persistir, o país terá de acrescentar pelo menos 5 mil MW por ano em capacidade instalada. Na soma de Santo Antônio e Jirau – projeto muito semelhante, que deverá ser leiloado em maio –, o país terá acrescentado 4.040 MW médios de energia “firme” (garantida). Ou seja, as hidrelétricas do Madeira não bastam para atender ao crescimento do consumo.
Segundo Pugnaloni, da Enercons, projetos de expansão do parque gerador não faltam: a Aneel teria 27 mil MW em hidrelétricas “na prateleira”, à espera de aprovação. “O governo federal precisa escolher. Ele pode prejudicar toda a população, obrigando-a a pagar preços altos, ou mesmo a ficar no escuro. Ou pode dobrar o corpo de analistas da Aneel, que está com absoluta falta de pessoal.” A Aneel não comentou as declarações.
“As usinas do Madeira são as primeiras de grande porte depois de muito tempo. O Brasil precisa acelerar outros grandes projetos, como o da hidrelétrica de Belo Monte [no Rio Xingu, no Pará], que têm trâmite mais demorado e são difíceis de tirar do papel”, defende Edmar de Almeida, professor do grupo de Economia da Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Por enquanto, o projeto de Belo Monte ainda está na fase de estudos de viabilidade. O Ministério de Minas e Energia (MME) espera colocar a usina em leilão em 2009. Mais cautelosa, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), também ligada ao governo federal, acredita em leilão no início de 2010. O projeto de Belo Monte é gigantesco: com 11 mil MW de potência, a usina seria a segunda maior do país, atrás apenas de Itaipu (14 mil MW).
“Na região amazônica, sempre há uma resistência, louvável, por parte dos ambientalistas, principalmente após o desastre econômico e ambiental que foi a usina de Balbina”, diz José Alexandre Hage, da Trevisan Consultoria, referindo-se à hidrelétrica do rio Uatumã, no Amazonas, que alagou uma área nove vezes maior que a prevista para Santo Antônio mas tem potência treze vezes menor. “Mas não é por isso que tudo dará errado na Amazônia. Deve-se explorar seu potencial, com o mínimo impacto ambiental.”
(Gazeta do Povo/PR - 17/12/07)
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